23 de setembro de 2008

Ensaio sobre a cegueira


Minha pós-modernidade intrínseca me impede de afirmar uma interpretação única pra esse filme. Eu luto, mas caio na mesma história sempre.
Bem no senso comum, acredito que esse seja um bom tapa na cara da sociedade. Fugindo de um discurso socialista ou de qualquer outro rótulo desse tipo, acho mesmo que a estória tenha um fundo de crítica ao individualismo que está nos assolando, cada vez mais. A cegueira tem um significado que vai tão além da doença... Talvez demonstre o estágio em que a pessoa deixa mesmo de ver, deixa de enxergar o que o rodeia e se preocupa apenas com o que é palpável. E é fundamental como, após a tal epidemia, com a doença, o que realmente importa acaba tornando-se paupável. E não se pode negar o fato de que tal cegueira atinja a todos, sem nenhuma distinção. Não são apenas brancos ou ricos que estão perdendo a noção do que vale a pena, são todos, do asiático rico ao latino pobre, do Bill Gates ao senhor que dorme na porta da minha faculdade. É uma espécie de crítica a uma inversão de valores por todos nós.
Há uma espécie de "evolução" naquela pequena sociedade formada de maneira forçada. O filme também mistura um pouco de teoria política. Não sei se eu estou ficando louca de vez com essa minha vidinha acadêmica, mas percebi um pouco de Hobbes... A sociedade que sai do estado selvagem e, sem governo, ruma para o caos. A necessidade da autoridade para defender e gerar a paz é uma das teses defendidas por Hobbes no Leviatã. Aquele "micro cosmos" da reclusão para a quarentena acaba tornando-se um tipo de sociedade e, na medida em que essa sociedade começa a organizar-se rejeitando o estabelecimento de uma autoridade, um representante escolhido por todos, o caos se instala, os direitos e liberdades deixam de ser respeitados. Daí toda a trama envolvendo a personagem do ator Gael García Bernal. Mas como ando um tanto imaginativa e não sou mestra em ciência política, posso mesmo estar totalmente errada.
Mas uma das cenas que me derrubou, logo no início do filme, foi o encontro do casal de japoneses [interpretados por Yusuke Isseya e Yoshino Kimura], já dentro do alojamento de quarentena. Além de falada em japonês, o que já mexe comigo naturalmente, a cena mostra um amor tão profundo. Foi impressionante a forma com que fica evidente o amor que une aquelas duas pessoas. Eles se encontram mesmo que não enxerguem um ao outro. E isso tem um peso enorme! [Pelo menos para mim...] Entre outras cenas, como o caso das mulheres... Enfim! Não cabe a mim contar o filme e acho que me odiariam por isso.
Conto nos dedos os momentos em que chorei de forma tão "doída" no cinema. Não que eu tenha coração de pedra, mas não sou tão manteiga derretida. A verdade é que, quando juntamos 2 mais 2 e dá 4, não tem jeito. Foi um filme que mexeu comigo de uma forma assustadora e achei digno escrever sobre. Me senti um tanto vazia e pequena quando saí daquela sala de cinema...

Um comentário:

  1. Querida, antes de mais nada, duas coisas:
    Paupável = Palpável
    Destinção = Distinção.

    Bem, você fez de tudo pra escapar do discurso socialista, que é do próprio autor do livro, Saramago. Isso daí não posso dizer que é pós-modernidade, mas força muito a barra. Ao invés de falar de Hobbes, o homem é o lobo do homem, você poderia falar de Mezsáros, Socialismo ou Barbárie. Acho que cabe muito mais esse discurso, do que o homem ser o lobo do homem. Porque ele ja era antes do Estado, e continua sendo depois dele.

    Não vi o filme, to defendendo um ponto de vista do autor, que apesar das suas escapulidas, é socialista. Claro que vc pode dar a sua interpretação, mas se vc, como diz, se sentiu pequena e vazia quando saiu da sala, faça algo para mudar isso, use o filme, ou o livro, para mudar sua visão de mundo. O "mesmismo" é igual a cegueira. "Ta tudo ruim, vou fazer o q sozinho?" Bem, é isso.

    Não foi crítica, até gostei do que vc escreveu. Mas é esse medo a tudo que atrái a cor vermelha, que te trava. Você não é pequena (bom, literalmente é hehehe), vc é grande. Mas se livrando desse medo, pode ser imensa. Minha humilde opinião.

    Beijão pra ti, Mizaru-chan

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