7 de agosto de 2016

Um gol sem gritos

"Não, mas elas devem ser sapatões, né? Mulher jogando futebol? Puff!"

"Affe! Mas a qualidade nem se compara. Homem tem mais resistência física..."

"Olha que bonitinha de maquiagem! Nem parece que luta..."

As olimpíadas começaram e, com elas, a chuva de infelicidades. Não, ser mulher nunca foi fácil. Mas, não, isso não se resume ao fato de que nós somos "responsáveis por parir" ou "responsáveis pelo laaaar". Ser mulher é ter que provar, todos os dias, que somos capazes. Não somente capazes, mas igualmente capazes.

Nos esportes parece que tudo se complica. Criou-se uma cultura de fragilidade, incapacidade e, de certa forma, desconhecimento de tudo para as mulheres. Aguentamos menos, somos muito delicadas, não sabemos nada de regras sem a ajuda de um homem, não conseguimos praticar esportes, somos desengonçadas e Deus me livre e guarde de tentarmos assumir esportes originalmente masculinos.

Os anos se passaram, a vida seguiu, mentes se abriram e muitos países colocaram suas mulheres no esporte lentamente. Aos poucos, as próprias mulheres começaram a reconhecer suas capacidades de assumir a posição de atletas. As pioneiras, em seu brilhantismo, abriram o caminho para uma nova era de capacidade. Hoje somos uma massa de mulheres esportistas? Não. Somos minoria. Ouvimos os maiores impropérios. Ainda ouvimos aquele velho "tão feminina, nem parece que luta/corre/bate/atira/joga/é casca grossa."

As olimpíadas de 2016 começaram na sexta-feira. Nossa olimpíada, as olimpíadas do Rio. Infelizmente, muitos ainda foram os países que enviaram somente homens ou pouquíssimas mulheres. Pra surpresa dos desavisados, os países africanos mantém seu brilhante projeto de empoderamento e continuam a enviar um número surpreendente de mulheres. Mesmo os menores e mais pobres. Os antigos, como a Índia, continuam a decepcionar... Mas há quem culpe a tradição.

Porém, é inevitável perceber a diferença de tratamento entre as categorias masculinas e as femininas. O exemplo é bobo, mas quantas vezes você assistiu e torceu por um campeonato mundial feminino de futebol na Globo, a grande empresa televisiva nacional? Quantas vezes aquele "grande locutor", acompanhado por seu "time de craques" e "estrelas" cobriu um jogo feminino? Quantas vezes, na sua cidade, o povo gritou pela janela um GOOOOOOOL lá do fundo da alma pela Marta, a Formiga, a Dani etc.? Quantos nomes de atletas femininas, do futebol ou não, você conhece? São mais nomes do que os masculinos?

Sou carioca dos gritos de "MEEENGOOO" pela janela. Dos gritos de "GOOOOL" até ficar rouca. O mesmo acontece aqui em Goiânia, já ouvi muitos gritos pela janela. Curiosamente, nenhum gol da seleção feminina inspira essa paixão. Silêncio. Desconfortável silêncio.

Muitas exageram na luta? Sim. Mas feminismo é mesmo besteira? Essas "feminazi loucas" só querem mesmo chamar atenção? Não existe diferença?

A diferença existe. Desde a falta dos gritos pela janela por um gol, até o desrespeito de um delegado de polícia durante a denúncia de uma agressão. Desde a falta de conhecimento de atletas, até a crença de que agressão doméstica é só briguinha de casal. Desde a crença de que, porque são mulheres, a resistência é menor, até a crença de que "a menina vagaba pediu pelo estupro."

Com o pé direito, essas olimpíadas começaram com uma medalha de ouro feminina em um esporte "de menininho". Virginia, americana, venceu no tiro ao alvo com carabina e ar a 10m. Um soco na cara de muita gente. O futebol brasileiro, lendário, hoje é carregado com honras pela seleção feminina. E muitas outras glórias de mulheres ainda virão.

Aceitem, já carregamos muitas glórias e viveremos muitas outras. O que a sociedade construiu até hoje aos poucos vai cair. No fim a verdade é que seremos igualmente boas ou muito melhores, nada menos que isso. Somos todas Martas, Sarahs, Hortênsias, Natálias, Paulas, Danis, Carlas, Maiaras, Anas, Victorias, Andressas, Jaquelines, Virginias...

24 de julho de 2016

Voltar dos mortos, um novo começo

É engraçado. Sempre "volto dos mortos", mas nunca em um sentido amplo. Hoje eu volto dos mortos de uma forma mais real. Não, não estava em coma ou doente ou morrendo. Mas acredito que espiritualmente sim. Muito de mim esteve morrendo desde o meu último post e publicar o que vou publicar agora foi uma luta/vitória. Aprendi muito, vivi muito, chorei muito, sofri muito, sorri bastante, amei sem fim. Mas só agora, hoje, me sinto livre pra ser feliz e mudar o rumo.

Não estou plena, não me livrei de fantasmas, ainda não atingi a maestria na arte de ser firme no que considero melhor para mim. Lembranças me assombram, tenho pesadelos bizarros, o coração dói. Vejo fotos e tenho lembranças que me deixam desconfortável. Mas minha cura está em reconhecer que não foi bom, não foi como deveria ter sido e que eu preciso superar muito. Está também em olhar para trás e reconhecer meus erros, minhas infantilidades e a malícia de algumas pessoas.

Grande parte do crescimento pessoal está em saber ler as pessoas. E como eu sou falha nesse quesito. Quantas vezes fui "língua solta" demais, acreditei demais, duvidei de más intenções, demorei a tomar atitudes contra o que me incomodava.

A grande sacada da malícia, do assédio (de qualquer tipo), da falta de consideração, do abuso de poder é que tudo isso te faz duvidar dos seus sentimentos, do seu incômodo. Será mesmo que as intenções são ruins, não sou eu que estou exagerando? Ele(a) sempre foi tão legal, será que ele(a) realmente tem controle dessas coisas? Será que ele(a) realmente tá dando em cima ou tá só querendo ser meu (minha) amigo(a)? Ele(a) disse que "gostava muito e era muito amigo de fulano(a), mas...", deve ser verdade, né? Meu Deus, ele(a) quase chorou, deve ser verdade, né? Não, ele(a) não faria isso, faria?

Eu sou ridiculamente falha. Erro muito, mesmo. E sinto uma baita vergonha. Mas um os meus erros se confunde muito com virtude. Eu estabeleço vínculos com quem eu devo e com quem eu não devo. Isso me atrapalha profissionalmente, tira de mim uma frieza que talvez seja a chave do sucesso. Não sei. Quando o trabalho gera um falso vínculo de amizade, a decepção é certa. A explicação chega a ser boba... Um falso vínculo de amizade faz com que você confie e acredite em reciprocidade. E é aí que a brincadeira acaba.

Não existe reciprocidade, não existe almoço de graça. A consideração que se dá não é a que se recebe e tudo que for dito pode e será usado contra você. Ninguém que te aconselha a questionar ou brigar com alguém (do qual se diz muito amigo, amigo de anos, amigo irmão) é uma pessoa legal, por mais que essa pessoa diga conhecer o outro muito bem. Ninguém compartilha, de forma pejorativa, detalhes da vida pessoal de pessoas que diz gostar pra ser engraçado. Ninguém menospreza e diminui um suicídio só de brincadeira. A consideração e identificação dura enquanto durar sua submissão à vontade as pessoas. Mijou for do penico, amigo? Não importa o quanto você pode ter ajudado ou sido um bom profissional antes, ali acaba o amor e começa o inferno.

E esse é o grande mal dos nossos tempos, da nossa vida profissional "moderna" e "evoluída". Nos tornamos tão atrelados à necessidade de contatos, dinheiro, posição, emprego, que passamos a nos submeter a determinadas coisas e sorrir quando em situações totalmente bizarras. Falo da minha experiência na área acadêmica, mas não duvido que a mesma realidade se repita para muitas carreiras (senão todas). O mundo de hoje é cão, pitbull criado em vala sem luz e sem comida.

Quase coloquei muita coisa a perder por essa ideia errada de que eu precisava daquilo, precisava ser bacana, precisava de contatos, tinha uma dívida com não-sei-quem etc.

Mas deixa eu te contar umas verdades... Tem gente que torce o nariz pros seus contatos, porque você se liga cm gente sem noção e mal-vista. Tem gente que te responde sem você precisar ser indicado, tem gente de carne e osso, daquelas que a gente conversa como os seres humanos fazem desde as cavernas. Tem gente que não vale a pena tentar atingir no alto da torre de marfim, porque não vai te acrescentar nada e nem o "grande nome" vai te dar qualquer vantagem.

Tive que sofrer dores imensas para me convencer de que o tempo te tira muito e não vai ser o teu colega de trabalho ou o teu chefe que vai valorizar seu "grande esforço profissional" de continuar trabalhando mesmo estando péssimo. Ninguém se lembra de onde veio ou as trevas que teve que atravessar, quando a vida tá bacana; todo esforço e sofrimento para atingir um objetivo se torna nada mais do que uma obrigação quando enxergamos de cima. As escolhas sempre foram minhas e eu nunca me arrependo delas, fazem parte do todo, ensinam. Mas dizer que foi tudo muito legal seria mentir até para mim mesma.

Meu remédio veio quando resolvi que era um absurdo me submeter às vontades irracionais e aos pedidos interesseiros de quem provavelmente esqueceu o que é viver longe de casa ou talvez nunca tenha vivido. Talvez a decisão e o método não tenham sido os melhores, mas ainda assim me decepcionei com os desdobramentos de tudo. No fim, quem se dizia amigo rapidamente tornou-se colega/chefe e aqueles que falavam mal dos outros passaram a falar mal de mim. O que esperar de pessoas que fizeram isso com outros, com os tais "amigos-irmãos" e pessoas "queridas"? Ilusão a minha. E mais uma vez vivi a dúvida e o questionamento dos meus próprios princípios, a insegurança e o medo de ter destruído tudo que deu tanto trabalho pra construir.

E quantos não foram os choros doídos, as broncas, os sonhos bizonhos (como os que tive até recentemente), os abraços e os consolos daqueles que realmente são amigos, colegas, familiares e parceiros nessa vida, até que eu começasse a confiar nas minhas escolhas e no meu taco de novo? Quantas vezes não precisei repetir pra mim mesma que nem tudo estava perdido? Quantas tentativas de retomar qualquer tipo de trabalho foram arruinadas por um medo ou bloqueio inexplicável? Quanto tempo foi jogado fora?

Não. Chega. A volta dos mortos começou com o meu casamento (num próximo post) e, depois, com a ida ao Japão, há um mês. Começou quando resolvi que essa Marina tem capacidade de decidir com quem ela quer se relacionar, com quem ela quer continuar a trabalhar, com quem ela tem interesse em estabelecer relações. Não mais presa às necessidades burras de lamber o chão de qualquer um que apareça com promessas vazias ou ao pensamento de que não vou evoluir se não me sujeitar a certas coisas.

Palavras são vento... Vou realizar e ver realizarem antes de qualquer outra coisa.

5 de julho de 2015

Nova casa, novo trabalho, África do Sul, Japão e a saga da academia

Minha vida daria numa comédia bem boa, daquelas de doer a barriga de tanto rir. Sei disso porque eu mesma rio... Às vezes pra não chorar, mas rio.

Quase DOIS anos completinhos depois de dormir no topo do Monte Fuji, estou de volta. É aquela velha relação blogueiro-blog, que só as duas partes entendem. Você escreve enquanto as inspirações duram, daí você pára, depois você volta. Mas é gostoso voltar vendo o quanto o blog continuou vivo durante esse tempo. Bom saber que não escrevo só pra mim mesma.

Muita coisa mudou desde aquele agosto de 2013. O trabalho de doutorado, infinito e sofrido, acabou. Sou doutora (e, sim, isso ainda soa estranho pra mim... mas falamos sobre isso mais tarde!), voltei pro Brasil, trabalhei no Brasil, fiquei noiva no Brasil (UHUUUL!!!) e minha carreira me puxou pelo pé e me jogou na África do Sul.

Nascer do sol na África do Sul, visto do avião
“Mas menina, comassim?”, vocês perguntam. E eu respondo “O Japão, queridos... Sempre o Japão”. Lá para fins de fevereiro desse ano, em uma conversa com um amigo que também se formou no Japão – em meio às lamúrias da falta de oportunidade e das dificuldades de ser um doutor em lugares que não se mostram muito abertos para doutores, mesmo sendo as nossas casas –, soube de uma novidade... Um projeto... O mesmo projeto no qual trabalhei no mês anterior a voltar para o Brasil (lá no Japão). Uma vaga ainda estava aberta para 10 meses de trabalho na África...

Dúvidas, discussões, dúvidas, lamentos, dúvidas, esperanças, dúvidas, projetos... Já disse dúvidas? A organização de um casamento à distância, valhei-me secretária-representante-administradora-mãe... A organização de uma vida pós-casamento à distância... Visto tirado às pressas, passagem comprada às pressas... Tudo corrido, tudo suado. Ajuda de muitos amigos queridos. O pensamento focado em construir um futuro, que agora não vai ser mais só meu, seremos dois em um... E a vantagem de ter O Cara dando aquele empurrãozinho quando as coisas não pareciam ir bem.

E aqui estou eu, na África. Minha primeira vez no continente da origem... E quem diria que ia ser algo tão definitivo, né? 10 meses morando aqui, trabalhando e pesquisando aqui. Pela primeira vez uma pesquisa sobre a África. Relacionada com a pesquisa anterior sim, um pouco de ONU na jogada, mas minha primeira conexão africana.

O lugar? Bloemfontein. A fonte das flores. A cidade das rosas. A capital judicial da África do Sul (uma das três capitais, na verdade – junto a Pretória e Cidade do Cabo). Uma grande pequena cidade, com muitos shoppings, poucos prédios e cercada por fazendas. Nenhum Burguer King, nenhum Starbucks, mas um McDonald’s, um mercado de fim de semana muito legal, pessoas incrivelmente simpáticas e uma universidade fantástica. Comparada com Johanesburgo, onde estive no mês passado, Bloemfontein é muito pequena. Mas isso salva cidade de índices elevados de violência, garante o menor índice de poluição atmosférica do país e ainda dá de presente para os habitantes a melhor qualidade de água da África do Sul.

Durante esse primeiro mês não tive muitas chances de explorar meu novo endereço no planeta. A espera pelo primeiro salário é sempre angustiante. Mas pude ver algumas coisas que, em geral me intrigaram e também agradaram, na maior parte. A África do Sul é um país de pessoas amigáveis, felizes, simpáticas. Existem os “cara de orifício anal”? Existem, mas são a minoria. E não há um sorriso bem dado que não arranque um sorriso igualmente bonito. Sinto-me em casa nesse continente, realmente acho que herdamos a parte boa daqui.

Ao mesmo tempo, as semelhanças com o Brasil também são grandes no sentido não tão bom da coisa. Como na saga da academia, por exemplo...

Há três semanas encontrei a academia do campus. Isso, em si, já foi uma saga. Todos (ou uma parte das pessoas) sabem que a academia existe, ninguém sabe onde fica. Levei duas semanas para achar o lugar. Quando encontrei, achei muito legal; as academias aqui do Brasil, ops, da África do Sul são muito parecidas com as academias da África do Sul, ops, do Brasil. Cheguei na secretaria e perguntei sobre a inscrição e fui informada que só acontece às sextas-feiras. ”Ok! Volto na semana que vem!”, respondi. Uma semana depois, lá estava eu e mais uma vez não consegui me registrar, porque, segundo o funcionário, os registros aconteciam das 10h às 11h da manhã. ”Mas não me informaram isso...”, respondi ao funcionário brasileiro, ops, sulafricano. Na semana seguinte, pra ser mais precisa, na última sexta-feira, voltei à academia para ouvir que os registros não são feitos durante o mês de julho, agora só em agosto. E, ali, me senti na África do Sul, ops, no Brasil...

Brincadeiras à parte, é bem verdade... Somos semelhantes em muitos pontos. Às vezes é impossível não fazer a comparação e fica até chato repetir sempre a frase ”É, nós temos isso no Brasil também”. Para as semelhanças boas, parece uma certa necessidade de não estar por baixo. Para as coisas ruins, fica parecendo uma eterna competição de quem está mais caído...

No meio de julho recebo visita ilustre (MÔÔÔÔ!!!!) e, aí, vou poder ver mais coisas dessa terra ainda não explorada por mim. Estou animada! Acho que esse continente tem uma certa magia, me encanta...

27 de agosto de 2013

Dormindo no topo do Japão

Monte Fuji visto da quinta estação
Sou pequena, frágil, cheia das minhas frescuras e medos, não há quem diga que luto Taekwondo ou que gosto de me meter numas aventuras tenebrosas. Mas a verdade é que eu gosto, eu vou, me sujo, me machuco, me canso, me quebro, passo perrengue e tenho minhas histórias pra contar no fim. Já cruzei meio Japão de trem normal, numa viagem de 18hs, já fiz trilha de chinelo etc. Semana passada resolvi colocar mamãe de cabelo em pé (de novo) e fui sozinha escalar o Monte Fuji, o pico mais alto do Japão e também um vulcão ativo.

Existem vários relatos de como é a experiência de escalar o Fuji. Li muitos antes de ir, pra poder me preparar. Mas, sinceramente, nenhum deles conta exatamente como é a subida ou a descida. Nenhum deles consegue resumir exatamente o sentimento ou o que é necessário. No fim, concluí que nada como a experiência em si pra nos ensinar onde erramos e onde acertamos, que parte é simples e qual é a complicada. O que é possível e o que não é.

Depois de quase 3 anos e meio no Japão, minha última chance de escalar o Fuji foi agora. Todo ano, as trilhas e estações da montanha são abertas no verão, entre julho e agosto. Em geral, a temporada de escalada acontece entre a primeira semana de julho e o dia 31 de agosto. Algumas variações de dias podem acontecer, devido às condições climáticas, mas, resumindo bastante, temos esse intervalo de dois meses pra visitar o topo do mundo nipônico.

Desde que cheguei aqui tinha muita vontade de ir e empurrei com a barriga por preguiça, outros planos etc. A verdade é que a ida exige uma certa preparação material e de atualização com o clima. Cinco dias antes de ir (ou decidir a data da minha ida), comecei a checar a previsão do tempo no topo, para garantir que a subida não seria em condições ruins e que o meu nascer do sol (evento máximo da escalada) estaria garantido. O site da Agência Meteorológica Japonesa se mostrou muito complicado, então fui atrás de sites mais específicos, como o Mountain Forecast ou o Mt. Fuji Climbing. Consegui encontrar uma “janela”, em uma semana que prometia tempo nublado, juntei minhas tralhas e fui.

No trem, a caminho.
Minha programação era: ir de trem (trem-bala + trem normal), subir até a quinta estação de ônibus, começar a trilha por volta de 3 horas da tarde, subir com tranquilidade, passar a noite no topo, ver o nascer do sol, andar um pouco em torno da cratera, descer e voltar pra casa. Consegui seguir de certa forma o que tinha programado, mas os “extras “ são sempre a parte boa da aventura, né?

Existem quatro opções de trilhas para a escalada do Monte Fuji: Yoshida, Subashiri, Gotemba e Fujinomiya.
Trilha Yoshida
As três tem características diferentes: Yoshida começa na cidade de Fuji-Yoshida, é a mais fácil e com mais assistência (muitos banheiros, casas de hospedagem e lojas); Subashiri começa na cidade de Oyama, é coberta por vegetação até a sexta estação e se une à Yoshida na oitava estação; Gotemba é a trilha mais longa, começa na cidade de mesmo nome e tem pouca assistência para quem escala, pelo menos até a oitava estação; Fujinomiya também começa em cidade homônima, é a trilha mais curta de todas, porém a mais inclinada e complicada, além de apresentar poucos locais de assistência.

Para a subida, escolhi a trilha Yoshida e descobri que o nível de dificuldade relatado nos sites não era o mesmo que eu acreditei que fosse. Apesar de serem trilhas, a escalada se faz escalada de verdade em certos momentos. Na Yoshida, o caminho entre a sétima e a oitava estações apresenta trechos de “rock climbing” real, com mãozinha na pedra, bracinhos fortes etc. Apesar de ser em zigue-zague, a trilha Yoshida não deixa de ser inclinada e cansativa também. Cheguei à quinta estação pouco antes das 2 horas da tarde, fiquei um pouco por lá passeando e me adaptando à altitude, iniciei a subida no horário que tinha previsto e consegui alcançar a oitava estação em 3 horas e meia. A beleza de ter começado mais cedo foi, com certeza, poder ver o show de luzes do pôr do sol.

Cajado e suas marcas
Para auxiliar a subida, comprei um cajado de madeira, que é vendido nos pontos de partida para a trilha e mesmo nas lojinhas da subida. Como comprei na estação de trem, gastei cerca de 800 ienes, mas os preços podem chegar a 1.500 ienes, conforme você sobe. A parte legal do cajado é que a cada estação você pode marcar o seu avanço com carimbos a ferro quente. Cada um com um desenho, às vezes até dizendo a altitude, a data e tudo mais. Sendo que o mais importante é, sem dúvida, o do topo, né? E, na volta pra casa, pode saber que você e seu cajado vão ser as estrelas do trem, e todos os velhinhos vão querer saber se você realmente escalou o Fuji-san. Hihihi!

Depois da oitava estação, começou a escurecer e tive que usar minha lanterna de cabeça. Sim, o ideal é deixar as mãos livres por vários motivos, entre eles o apoio nas pedras de alguns trechos e a ajuda na proteção em caso de queda. No escuro, a subida se tornou mais lenta e cuidadosa. Apesar da bênção de ter tido o clima perfeito durante todo o tempo (mesmo tendo checado previsões de tempo nublado) e só ter visto passar longe uma tempestade de raios linda, o vento chegou com força total depois do pôr do sol. E quando digo com força, não estou exagerando; eram rajadas de vento bizarras mesmo. A lua cheia também deu o ar da graça nos últimos metros de subida e compôs cenários maravilhosos, que vou guardar pra sempre na memória.

Às 22 horas cheguei ao topo do Fuji. Depois de ter iniciado a subida muito tranquila e em um ritmo bom, os últimos metros foram uma mistura de sentimentos e, incrivelmente, isso parece ser a experiência de todo mundo que resolve encarar essa aventura sozinho. O cansaço, a escuridão e os obstáculos reduzem mais sua velocidade, as dores começam a aparecer, as paradas pra descanso passam a ser mais frequentes e o fim parece cada vez mais distante. Um amigo relatou de uma forma que descreveu direitinho o que senti; o que inicialmente não tem nada de espiritual, se torna espiritual nas últimas centenas de metros de escalada. Quando tudo se junta, as lágrimas vem, a exaustão tenta te derrubar e ali, no escuro, no silêncio, no vazio, você sente a presença de Deus. Eu senti, esse amigo, quando subiu, também sentiu; acho que todo mundo sente. E eu chorei, rezei, agradeci por ter uma oportunidade tão única, tão especial. Quando veio o topo, não conseguia mais me conter e chorei mais, de alegria, saudade de tanta gente, gratidão. Chorei me sentindo vitoriosa, capaz. Foi uma sensação incrível, que eu compartilhei somente com Deus, minha única e mais que poderosa companhia.

Lua cheia, na parte final da subida
Depois que a oitava estação desaparece sobre o ombro, durante a noite, a nona estação é somente uma ruína abandonada e o topo é deserto. As pessoas só começam a chegar e se acumular a partir das 2 horas da manhã. Antes disso, só os poucos lunáticos (eu). Assim, fui obrigada a passa a noite na porta de uma das lojas, encolhida embaixo do que levei para me proteger do frio e, quando não apagando por pura exaustão, tremendo muito, enquanto o sol nascente não vinha. Esse foi o meu primeiro aprendizado: roupas mais quentes e mais estruturas pra se proteger do frio, se você é suficientemente louco pra resolver dormir no topo. Meu “jeitinho” foi me enrolar na capa de chuva, deitar no chão e me cobrir com uma lona e uma manta que tinha levado, além do meu casaco mais pesado e minhas luvas. Não foi perfeito, eu parecia uma mendiga, mas me salvou de alguma forma do vento cortante. Enquanto no nível do mar a temperatura era de 37 graus, na montanha, a 3.767 metros, a temperatura era de 37 divididos por 10. Enquanto passava frio, acreditei piamente no que li sobre como já é inverno no Fuji a partir de meados de setembro. O fundo da cratera já apresentava até um pequeno (bem pequeno) acúmulo de neve.

Às 3 horas da manhã as lojas no topo abriram. Espertamente, todos começaram a vender bebidas quentes e oferecer refeições. Um detalhe importante sobre a escalada é: levem dinheiro, bastante dinheiro. Apesar de ser possível, como eu fiz, levar comida, dormir no frio e evitar maiores gastos, emergências acontecem, os banheiros são pagos e, na hora do frio, até eu cedi minhas ricas moedinhas por um chocolate quente e abrigo até o céu clarear. Sem contar que a necessidade faz todos os homens, principalmente os que ganham dinheiro com ela; as coisas são extremamente caras durante a subida do Fuji.

Quando o céu clareou, por volta das 4 horas da manhã, tomei meu lugar e fiz valer meu esforço, o frio e a espera. Nunca, na minha vida, tive uma experiência como o Goraiko (o nascer do sol visto do topo do Fuji). É maravilhoso! Eu fui uma das primeiras pessoas no mundo a ver o sol nascer no dia 22 de agosto de 2013.

Goraiko
Depois de passados os meus momentos com o sol nascente no topo do país do sol nascente, resolvi perseguir meu fascínio por vulcões e fui caminhar ao redor da cratera, na trilha chamada Ohachimeguri. Essa trilha também não é das mais fáceis, com algumas partes bastante inclinadas, mas é fascinante poder ver um vulcão ativo “por dentro”. Sempre tive esse fascínio suicida... Acabei escolhendo uma boa pedra, numa parte mais baixa da trilha, bem perto da cratera, pra tomar meu café da manhã e ter mais um conto pros netos. O Fuji tem baixo risco de erupção, mas continua sendo considerado um vulcão ativo e fica no encontro de 3 placas tectônicas, a Euroasiática, a Okhotsk e a das Filipinas (OMG! EU ESTIVE NO ENCONTRO DE 3 PLACAS! *-*). A última atividade do grandão aconteceu em 1707.

Kegamine ao fundo
Depois disso, subi até o pico mais alto do Fuji (3.776m), e consequentemente do Japão, chamado Kengamine. Lá ficava localizado o sistema de radar meteorológico japonês, o mais alto do mundo, e ele podia detectar fenômenos naturais a 800km de distância. Hoje os satélites o substituíram, mas a instalação ainda existe. O vento dificultou tanto a chegada ao pico e o caminho a diante era tão inclinado, que acabei voltando dali, percorrendo só metade da trilha da cratera. Mas valeu. Preferi ter tido só a experiência de chegar ao lugar mais alto e deixar de ser jogada pelo vento ou montanha abaixo ou pro fundo da cratera. Hehehe!

Inicialmente tinha decidido voltar pela Fujinomiya, por ser a mais curta e pra reduzir os gastos da passagem de volta. Mas o vento na trilha da cratera e a inclinação me fizeram voltar para a Yoshida mesmo, que também era considerada a mais fácil. Mas, se ela era a mais simples, eu certamente ia me quebrar muito na mais curta. A descida foi, definitivamente, a parte mais tensa da jornada. Subiria mais mil vezes, se não tivesse que descer nenhuma delas. Certamente a falta de um calçado próprio dificultou muito a minha vida, mas não posso colocar a culpa só no meu tênis, pois vi muita gente cair mesmo com botas específicas. Apesar de não ser muito inclinada, a descida na trilha Yoshida é uma ladeira de pedras vulcânicas soltas, que você precisa encarar cansado e, dependendo do clima, debaixo de sol o tempo inteiro. Resultado: caí 4 vezes, ralei minhas mãos, machuquei e forcei muito meus joelhos, tive queimaduras de sol (culpa toda minha) e, no fim, não conseguia nem mais andar direito. Desci em uma velocidade ridiculamente baixa, levando 5 horas. Além disso, a trilha tem apenas três locais com banheiros e bastante distanciados uns dos outros. Tenso. Mas nada disso apagou a sensação fenomenal de antes.

Na volta pra casa, apesar de cansada, me senti vitoriosa. Escalei a montanha mais alta do Japão e marquei pra sempre no coração o período da minha vida que estou passando aqui. Sou grata ao Japão por me oferecer essas oportunidades únicas. A escalada do Fuji pode não ser “mamão com açúcar”, mas não é extremamente complicada, e a recompensa que recebemos por ela é fenomenal. Recomendo muito essa aventura!



21 de junho de 2013

Uma "confusão" chamada Democracia

Nos últimos dias, um certo "ídolo nacional" declarou que estão acontecendo umas "confusões" no Brasil. Não pretendo escrever aqui pra vocês os conceitos filosóficos de uma democracia, nem ensinar nada. E, antes que me metam o pau nos comentários, as aspas são bem claras sobre o que eu acho da fala daquele senhor. Na minha humilde opinião, o povo brasileiro começou, finalmente, a entender o que é essa “confusão” onde todos têm, além de deveres, direitos; essa “confusão” chamada DEMO-CRACIA. E essa mudança é tão louca e rápida e arrebatadora e emocionante e... e... e real. Visível. O gigante realmente despertou!

As mídias sociais borbulham de informações, opiniões, posições, acusações, defesas, indicações, canções, reivindicações... Vídeos, textos, depoimentos, relatos, chamados, imposições, revoltas... Uma chuva de informações 24/7, em tempo real, vinda de todos os lugares, de todas as gerações, de todo o país. O povo, gigante, acordou e acordou faminto. Com fome de direitos, fome de transparência, fome de um país melhor pra você, pra mim, pros meus filhos, pros meus netos.

Em 26 anos de vida nunca vi algo assim, algo grandioso, algo esplêndido. Já participei de protestos, já tive minhas pequenas atuações por aí, mas nunca vi nada assim. E acho, sinceramente, que, no meio dessa fome, precisamos parar e pensar bastante sobre os rumos de tudo isso. Racionalizar, saber o objetivo, saber como lidar com tanta novidade.

Ver de fora algo assim dói, porque nada seria mais delicioso do que uma participação direta em algo tão importante, acontecendo lá, em casa. Mas a distância nos impõe certa liberdade de análise. Nos dá o delay necessário pra enxergar certas coisas. E a dor de ver os tristes eventos de ontem nos leva a pensar, pensar e pensar. Então, vou desabafar em tópicos o que acho louvável e o que acho que precisa de reflexão. Isso é a minha opinião, o que eu acho sobre tudo isso. Podem me achar burra, alienada, lesada, coxinha, não ligo. Mas vamos debater isso, é sempre bom, é sempre saudável.

1 - Não é por R$0,20. Definitivamente não e sei bem que essa ideia veio da fala de outro desprezível senhor, logo no início de toda essa movimentação. Mas isso não tira a importância desses centavos. É uma ideia meio ambígua mesmo, louca, mas o significado de tudo está nas entrelinhas. São R$0,20 a mais em um serviço estúpido, vergonhoso, em um sistema ainda mais imbecil. E, nesse sentido, é e não é por causa dessas duas dezenas de centavos. O que faz toda essa movimentação social algo mais do que brilhante, genial. É incrível ver todo um povo acordar e enxergar algo tão sensível.

2 - Não aos militantes políticos nos protestos? Essa foi uma das ideias que mais martelou meu cérebro. Martelou e martelou. Fui e voltei em opiniões, parei, respirei, fui e voltei de novo. O Brasil, hoje, passa por uma crise tremenda de representatividade (ou não-representatividade, whatever). E quando digo tremenda, é uma parada muito grande mesmo. Os “representantes” não representam, roubam, abusam, desrespeitam. Nenhum partido, agora, me faz crer em mudança, coisa minha. Mas depois de refletir pesadamente sobre as reações da população à presença de certos partidos nas passeadas, pensei cá comigo: “Por que eu posso participar de um ato político com ideias de mudança e outras pessoas, também com ideias de mudança, não podem se juntar a mim?” Tolher a liberdade de expressão de pessoas que também querem a melhoria não me faz melhor do que a repressão do estado. Um processo de mudança democrática deve acolher, escutar e debater todas as opiniões que visem a melhora do país, que apontem uma tentativa de mudança da porcaria que vivemos agora. A gente precisa tomar muito cuidado com esses vazios, porque tem sempre alguém muito importante e aproveitador (como essa galerinha que está no poder agora) querendo preencher os vácuos.

3 - Impeachment? Na primeira vez que li algo sobre um processo de impeachment de Dilma-Cabral-Paes-Sei-lá-quem, pensei: “Ok... E quem vamos colocar no lugar? Minha mãe (nada contra você, mama! você seria uma presidente muito foda!)? O padeiro? Meu professor de aeróbica? Meu cachorro?” Vejam bem, eu digo e repito, com todas as letras, ODEIO essa máfia inescrupulosa que nós temos no governo agora. E é ódio mesmo, tenho certeza. Mas, se passamos por essa crise imensa de representatividade no nosso corpo político, quem substituiria essa corja, gente? Outra corja? O Collor foi deposto... O país melhorou depois disso? Nós precisamos de uma reforma política, queridos. Uma reforma completa. E isso é um processo longo. Começa assim, como estamos agora, gritando. Passa por uma mudança na forma como cobramos resultados, seja nas urnas como no dia a dia das nossas cidades e estados. E chega, no fim, à formação de uma nova geração política, com outros ideais, outras propostas e outra forma de agir. Sendo que essa última etapa começa a ser realizada agora, mudando a ideia do povo sobre política, mudando a ideia do povo sobre esse “jeitinho” maldito, mudando a ideia de todos sobre como fazer o país crescer, para crescermos juntos, e ensinando às nossas crianças tudo isso (ironicamente, começa no que não temos e precisamos passar a valorizar mais e mais, a educação).

4 - Galera que foi pra rua por modinha. Cansei de ler isso em tudo quanto é canto. “Olha lá! Foi pro protesto pra fazer álbum no Facebook!” ou “Não sabe nem o que tá gritando!”. Gente, pára! Só pára! Quando ninguém faz nada, a gente reclama. Quando alguém faz algo, a gente reclama. Parem de reclamar de coisa besta e reclamem do que merece reclamação. Os mais novos, que foram pra um protesto pela primeira vez, tiraram fotos, gritaram, etc., realizaram um grande passo na formação deles como cidadãos. Tirando fotos pra colocar na internet, indo bonitinhos, levando cartazes engraçadinhos ou não. Eles começaram a ver que ir pra rua protestar é algo legal, que deve acontecer, que é um direito. E é complicado ficar julgando a torto e a direito as atitudes das pessoas que estão do nosso lado numa luta. Isso enfraquece a nossa própria crença no que estamos fazendo. Nós temos é que levar todo mundo pra rua sim, mostrar que protesto é bacana sim e que reclamar nossos direitos tem que virar moda, nesse país com tanta coisa errada.

5 - Paz VS. Violência. Esse é um dos tópicos que mais me doem nesse dia, nesse momento, nesse minutinho. É um dos assuntos que eu sofro mais em falar agora. Na segunda-feira, meti o pau no que aconteceu no fim do protesto, na ALERJ. Meti e meto de novo. Desculpa, gente, mas não dá pra aceitar o que rolou ali e achar normal. Eu não consigo aceitar que o argumento correto tenha que ser defendido quebrando tudo, pra mim não é racional, e aquele evento ali foi muito mais do que estranho. O cheiro de armação foi tão brutal, que chegou aqui. E, aí, hoje, tive meu coração despedaçado, arrancado do peito em decepção, preocupação, tristeza, revolta, incapacidade de agir... Tudo! Vi tanta atrocidade, tanto descaramento, tanta falta de noção. Daqui! De longe! Do outro lado do planeta. E meu mundo caiu ao perceber que eu cheguei a acreditar na integridade de policiais (generalização esdrúxula, mas movida pela raiva), no fato de que “cumprir ordens” poderia ser um álibi. Acreditei que eles eram tão vítimas dessa porcaria quanto nós, que eles eram o escudo humano de um monte de engravatado bandido. Mas não... Eles são o sistema, eles são a pior demonstração da sujeira. Eles são a luva de aço de uma mão estatal que nos espanca a cada dia. E foi exatamente o que fizeram em São Paulo, o que fizeram no Rio, o que fizeram em Salvador... Nos espancaram. Abertamente, sem melindres, sem controle, sem julgamento, sem raciocínio. A comparação que me vem é a de cães loucos, enfurecidos, correndo atrás das crianças que brincavam de bola na rua. Quem jogou molotov, foi mordido. Quem gritou contra a polícia, foi mordido. Quem gritou “sem violência”, foi mordido. Quem não gritou, foi mordido. Quem trabalhou o dia todo e voltava pra casa, foi mordido. Até eu, no Japão, fui mordida. E a mordida está sangrando, doendo, inflamando. E, disso, não vem nada bom, gente! Pensa! Se gentileza gera gentileza, violência só pode gerar mais violência. A massa, agora, tem mais um alvo, tem mais um ódio, mais um ressentimento. O foco nunca foi o confronto contra a polícia, o grupo de assanhadinho que foi xingar os policiais, era um grupo de beócios, mas a reação foi além, foi absurda, foi inescrupulosa. Nada me tira da cabeça que a reação foi justificada pela nossa ingenuidade em condenar toda aquela armação de segunda-feira, tudo foi justificado por eles não terem reagido (muito suspeitamente) ao que aconteceu na ALERJ e terem a “obrigação” de impedir novos atos de “vandalismo” e “depredação”, na cidade inteira, ontem. Tudo cheira a merda, desculpem o termo. A noite de ontem, no Rio, foi a demonstração de que os “mocinhos” são tão bandidos quanto os vilões, e os vilões são mais cruéis do que nós imaginávamos.

6 - Multiplicidade de objetivos. Quando vocês escreviam carta pra Papai Noel também era assim? Vocês pediam o universo inteiro? Acho que sim, né? Todo mundo passou por essa fase de querer tudo ao mesmo tempo. A situação precária que nós vivemos hoje no nosso país nos leva de volta a esse sentimento. Queremos tudo, agora, pra já, pra ontem! Estamos mesmo atolados numa montanha de cocô imensa, me surpreende que não tenhamos afundado de vez nela até agora. Mas nada na vida vem em pacotes completos, nada se transforma da água pro vinho porque nós queremos muito. É papo de cientista humano pentelho (como eu), mas é real; tudo é um processo. Nossas pernas não são longas o suficiente pra abraçar o mundo; nossa força é imensa, mas não o suficiente pra demolir e construir um país novo em 2 segundos. Como mamãe dizia quando queríamos a loja de brinquedo inteira, de uma vez, “escolhe um ou não vai ganhar nada”. Ou nós vamos dando um passo de cada vez nessa mudança do país, ou vamos acabar perdendo o rumo do movimento e vamos parar na montanha de cocô de novo. Nenhuma mudança real acontece da noite pro dia, vide, novamente, o caso Collor; tirar um presidente não significou nenhuma melhoria no nosso sistema político. Acabar com a corrupção é bacana? É! Mas não vai acontecer agora, nesse segundo. Foquem no que é urgente e pode mudar AGORA. A tarifa do ônibus, a PEC 37, essas pequenas-grandes coisas que vão dar o passo inicial pra algo maior. Vamos subir de instância aos poucos e fazer o castelo de cartas marcadas ruir do jeito certo, pra não sobrar nada de ruim de pé, pra não negligenciarmos nada que possa nos fazer retroceder mais à frente.

Três páginas de post, revolta, ranger de dentes, desabafos, ideias doidas e doídas... Desculpe o incômodo, mas eu também estou tentando mudar o Brasil. E a luta continua! Agora, mais do que nunca, tem que continuar. O medo que nossos “poderosos bandidinhos” têm demonstrado é a clara mostra de que estamos no caminho certo. Nunca me orgulhei e senti tanta esperança. Não me decepcionem! (rs) A grande história da Revolta dos Vinte Centavos só começou a ser escrita...

4 de junho de 2013

Picolé de Iogurte, puro amor

Algo que me transforma numa cozinheira de mão cheia, em cinco minutos, é a falta de vontade de estudar. Aliás, nessas alturas do campeonato, às vésperas de começar a escrever a tese, meu cérebro deve ter achado que era o momento perfeito pra procrastinar, porque não consigo estudar bem há mais de uma semana. Mas, aos trancos e barrancos, lá vou eu...

Desde a semana passada, fiz lasanha, inventei moda, fiz Labna (queijo de iogurte, com receita lá no Pitadinha), etc. Na sexta-feira, passei numa loja de 100 ienes (um dia ainda escrevo melhor sobre as lojas de 100 ienes, o paraíso do consumismo desenfreado) e encontrei uma linda e colorida picoleteira. Vocês sabem o que é uma picoleteira, né gente? Não sei quanto a vocês, mas é uma das minhas lembranças mais vivas da infância, porque sempre gostei muito de sorvete e picolé. Coisa minha. Tenho quase certeza de que tinha uma dessas de brinquedo... Sempre achei tão legal a idéia da picoleteira e como era simples de usar. A picoleteira, como dá pra perceber pelo nome, nada mais é do que o utensílio pra fazer picolé. Oooolha! Hahaha!


No Japão, o verão já está chegando e nada melhor do que uma sobremesa, um lanche da tarde ou um lanche pós-treino bem gelado, né?

Encontrada a picoleteira, as ideias malucas vieram. E o simples fato de colocar qualquer líquido ali e transformar em picolé me deixou cheia de caraminholas na cabeça. É lógico que a primeira coisa que vem à cabeça é qual suco de fruta usar e as possibilidades são tantas! Abacaxi com hortelã, morango, uva... Mas queria fazer algo diferente e, ao mesmo tempo, saudável. Daí me veio a luz de usar iogurte e deu super certo.

Eu usei:
- 250g de iogurte natural;
- 2 colheres de sopa de geléia de blueberry com framboesa (a geléia pode ser de qualquer sabor e, na melhor opção pra sua saúde, caseira)


Daí pra frente você já sabe o que fazer, né? Eu bati tudo no liquidificador, coloquei na picoleteira e levei ao congelador por mais ou menos 2 horas. Para tirar os picolés da forma, é bom colocar o fundo da picoleteira em água corrente por uns segundos.

E você me diz: “Mas que receita ridícula! Que que é isso?” E eu te lembro que nem sempre as idéias mais óbvias são as que passam pela nossa cabeça. Não existe sobremesa mais fácil de fazer do que um picolé. E, além de gostoso, o picolé pode ser a escolha mais saudável, ainda mais se for feito em casa.

PURO AMOR!

20 de maio de 2013

O que os japoneses comem?

Vocês me respondem sushi e peixe cru. E eu, citando Amy Winehouse, digo “no, no, no”.

O famoso sushi! =P
Mas, afinal, se não é só sushi ou arroz, o que os japoneses comem, né? Eu diria que eles comem de tudo, com as limitações que o solo e o espaço deles oferece. A verdade é que o cardápio japonês é bem variado, além do que nós “meros ocidentais mortais” temos conhecimento.

O arroz é o prato principal do japonês. Sim, carnes e etc. são só acompanhamentos na culinária japonesa. Os chamados okazu, que, ao pé da letra, são alimentos que acompanham o arroz. E, na culinária tradicional japonesa, esses acompanhamentos incluem muitos derivados de soja, como o tofu, o missoshiro (sopa de pasta de soja) ou o nato (que nada mais é do que grãos de soja fermentados, babentos e meio feios de ver, mas muito saudáveis e nem tão ruins assim). Outros acompanhamentos são: algas marinhas de vários tipos, em geral servidas como salada; o delicioso tamagoyaki, que é um tipo de omelete japonês (enroladinho e muito gostoso); algumas carnes, na maior parte das vezes frutos do mar, frango ou porco (lembrando que carne de vaca aqui é ouro); salada de batata; salada de repolho (lembrando que as verduras também não são assim tão acessíveis aqui, mas repolho é barato).

Bento comprado em loja especializada.
Uma “tradição” japonesa para as refeições fora de casa, no trabalho ou na escola, são os famosos Bentos. O Bento é a nossa marmita brasileira, mas um pouco mais organizada (ok, super-mega-ultra mais organizada). Essa versão japonesa de marmita traz basicamente arroz e os acompanhamentos que eu já citei aqui. Algumas podem trazer batatas fritas, macarrão, etc. Os Bentos são geralmente preparados pela própria pessoa (ou pela mamãe da pessoa), para serem levados pra rua, mas supermercados e lojas de conveniência também dão uma maozinha aos despreparados culinariamente, vendendo boas versões de marmitas já prontas. Existem também as lojas especializadas em Bento, que tem cardápios de opções de marmitas e preparam a comida na hora (pra minha alegria, passei o último ano com uma dessas lojas bem em frente de casa; meu coringa pras horas de preguiça).

Para além da “comida caseira” japonesa, existem alguns pratos muito apreciados pelos japoneses. Um dos mais famosos mundialmente é o Lamen ou Ramen. Sim, aquele prato que o Naruto e quase todos os outros personagens de anime adoram comer. O Ramen é famoso no Brasil pela marca Nissin Miojo. No Japão, apesar de vendido nos supermercados, o nosso miojo não vence as várias lojas especializadas em preparar Ramen. O Ramen, aqui, é um prato que possui versões regionais específicas e é, de fato, completamente diferente do nosso miojão de 3 minutos. Sopa, carne, verduras e massa são preparados de forma bem específica para um Ramen de verdade. Confesso que me tornei uma pessoa que aceita a água do miojo depois de aprender que aquilo ali precisa ser, na verdade, uma sopa. E hoje sou uma amante de Ramen também.

Donburi e Ramen, os queridinhos do Japão.
Outro prato muito famoso no Japão é o Donburi. Os nomes de cada tipo de Donburi são terminados em don, que quer dizer “tigela de comida”, o que é engraçado e os pratos acabam ficando com nome parecido com Pokemons e afins. Em uma tigela, adiciona-se arroz e, sobre esse arroz, vão os demais ingredientes, que podem ser: tempura (formando o Tendon), carne refogada com cebola (formando o Gyudon), frango frito (formando o Torikaraagedon) e por aí vai. Os tipos de Donburi são vários e em geral bem gostosos, são meus pratos favoritos aqui. É lógico que não são simplesmente acompanhamentos sobre arroz, tudo envolve um molho próprio pro prato, cebolinha etc. Existem restaurantes especializados em Donburi, que mais parecem, na verdade, um “fast food japonês”, servindo a comida rapidamente para aqueles que precisam só de uma refeição rápida antes de voltar ao trabalho. Um deles é a Sukiya, que já possui uma filial em São Paulo.

Além dos produtos nacionais, os japoneses também apreciam bastante comidas de outros países. As mais famosas são a chinesa (claro), a indiana e a coreana. Os restaurantes chineses servem basicamente o que nós conhecemos aí no Brasil, com a exceção dos dumplins, que não são tão conhecidos assim em terras tupiniquins. Os dumplins parecem pastéis preparados no vapor, ao invés de fritos; eles são uma massa recheada com um tipo de carne ou verduras. Existem tipos variados de dumplin, cada um mais delicioso que o outro, mas o mais famoso no Japão é o Gyoza (uma das minhas coisinhas favoritas nessa vida também). Os restaurantes indianos estão por toda parte e o curry já é parte da alimentação diária do japonês. Trazido pelos navios ingleses, no século 19, o curry indiano foi adaptado ao paladar japonês e passou a acompanhar também o arroz, formando o famoso Kare Raisu. Mas também se pode encontrar o curry indiano tradicional nesses vários restaurantes. A comida coreana é muito conhecida e apreciada no Japão também. Depois de tantos anos colonizando a península coreana, os japoneses tomaram gosto pelos temperos de lá, bem como os coreanos tomaram gosto pela comida japonesa. No Japão podemos encontrar o delicioso churrasco coreano, o kimchi, o bibimbap, o chigue, o chijimi, entre outras coisas. Um dia explico melhor a culinária coreana, mas, em geral, é um conjunto de delícias apimentadas, que eu adoro.

Dumplin chinês, Curry indiano, Pasta italiana
e a nossa amada Picanha brasileira.
Outros tipos de restaurantes também podem ser encontrados aqui, como restaurantes italianos (japoneses ADORAM pasta, apesar de terem um gosto bem específico para o tipo de pasta, e ADORAM a Itália; não sei bem o porquê, mas, sendo italiano, é bom), restaurantes espanhóis (geralmente de Paella; arroz, Japão), restaurantes do tipo americano (servindo hambúrgueres etc.) e até churrascarias do estilo brasileiro, entre outros tipos.

Cada região do Japão também possui seu prato típico, sua especialidade e isso é um tópico muito legal de conversar. No Japão você pode viajar para conhecer locais e também para conhecer sabores. O Okonomiyaki, por exemplo, é um dos pratos típicos da região de Kansai, onde eu moro. Outro prato típico é o Chanppon, de Nagasaki. E isso daria um post inteiro... Depois... Quem sabe... Hehehe!

Na ordem: Okonomiyaki de Kansai e Chanppon de Nagasaki.
De certa forma, a comida no Japão é bem variada. É possível encontrar de tudo, mas, como em qualquer país, a maior parte dessa variedade é adaptada às disponibilidades e características culturais daqui. No Japão, por exemplo, a comida tende a ser menos temperada. E, quando digo menos temperada, quero dizer em todos os sentidos. O salgado tem menos sal, o doce é menos doce e por aí vai. Eu, sinceramente, por não ser muito ligada a doces, prefiro muito os doce japoneses (tirando o doce de feijão, feijão doce não tá certo nem a pau! rs). E acho muito saudável reduzir o consumo de sal.

Uma coisa é certa, está mais do que provado que a alimentação é um dos segredos da longevidade e, no caso do japonês, acredito que essa é a poção da juventude. Em um país onde o fumo e a bebida são comuns (e bastante excessivos), só uma alimentação balanceada para salvar o povo.


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Esse post surgiu de uma ideia da senhora minha genitora, quando conversávamos no Skype. Linda como sempre, enquanto conversávamos sobre comida japonesa, ela me perguntou “Mas, então, o que os japoneses comem?”, e essa foi a deixa pra eu me lembrar que nem todo mundo conhece bem os hábitos alimentares japoneses para além do sushi e o sashimi. Que tal vocês me mandarem mais perguntas/post? O e-mail do blog é coresamoreseafins@gmail.com e a caixa de comentários também está sempre à espera de visitas. rs (^.~)

19 de março de 2013

WE LOVE SUIHANKI!


Hoje vou contar pra vocês sobre a minha assistente de cozinha, minha fiel escudeira, a mãe do meu arroz mágico e de outras maluquices que eu invento de testar: a minha suihanki.

O nome sui-han-ki significa, ao pé da letra, utensílio de cozinhar arroz. Sui de ferver, cozinhar. Han (de goHAN), que significa arroz ou refeição. E ki, que significa utensílio, máquina.

A suihanki é uma panela elétrica japonesa, voltada para o preparo de arroz. O uso é muito prático e ajuda muito quem tem uma vida agitada, ainda mais em um país onde o arroz é o prato principal. Além de preparar o arroz japonês normal, algumas suihankis também preparam arroz integral e o okayu, que parece uma canja sem galinha e nem tempero.

O processo é bem simples, depois de ter lavado o arroz, é só adicionar a quantidade de água correspondente à quantidade de copos do arroz e ligar a bichinha. Dependendo do tipo de arroz, da quantidade e da velocidade que você prefere, é só aguardar entre 30 minutos e 1 hora. E, depois do ‘bip’, está pronto o seu arroz japonês...

Bem... Isso é o que os fabricantes dizem. Porque a suihanki vai muito além do arroz japonês.

O arroz, no Japão, é preparado só na água, sem sal, temperos e tudo que há de bom, como fazemos no Brasil. Confesso que adoro a versão japa, mas também adoro um arrozinho bem temperado. Mas a suihanki não te impede de ser brasileiro não. PELO CONTRÁRIO! Ela só facilita a sua vida. A diferença é que na suihanki você só joga tudo na água e deixa ela fazer o resto por você. É muito amor.

Arroz com Kimchi e Arroz com Pequi, feitos na suihanki.

A única dificuldade que eu encontrei no arroz temperado de suihanki foi a cebola, que desfaz quando cozida nesse tipo de panela e deixa o arroz pegajoso. O problema é que a suihanki está mais para uma panelinha de pressão, daí a cebola se desfazendo, mas nada nos impede de juntar uma cebolinha refogada ao arroz já pronto. Os demais temperos funcionam muito bem.

Além de temperos, nada te impede de juntar outros ingredientes ao arroz de suihanki. Carne seca, bacon, pedacinhos de liguiça, salsicha, camarão, milho, ervilha, cenoura, brócolis, kimchi. Já me aventurei num arroz com brócolis e bastante alho; não foi em vão, ficou uma delícia.

Indo um pouquinho mais além, nem só de arroz vive uma suihanki. Sendo essa panelinha super especial, ela prepara coisas que muita gente duvida. Uma amiga já prepara bolos e tortas na panela de arroz e diz que funciona muito bem (ainda não tentei, mas pretendo e, depois de tentar, conto pra vocês como foi). Outro amigo prepara feijão (sim, nosso feijão brasileiro) na suihanki e jura que dá certo (essa eu já tentei, mas a primeira tentativa não foi muito bem sucedida). Eu preparo espaguete e digo pra todo mundo ouvir: é o melhor macarrão que eu já provei. Por cozinhar tudo ali, misturadinho na água, a suihanki deixa a massa do espaguete muito saborosa e o tempero “pega” mesmo!

Nas minha tentativas, já falhei, fiz papinha ao invés de macarrão e tudo mais. Mas nada por culpa da máquina e sim por falha humana mesmo. Usei a massa errada, com a quantidade errada de água. Acontece...

Eu, sinceramente, ainda pretendo testar minha panela de arroz pra muitas outras coisas. Acredito que ainda não alcancei o limite dessa belezura. E mamãe já pode ficar feliz, porque logo logo vai ter uma dessas em casa também.

Pros brasileiros no Japão ou pra quem tem suihanki no Brasil, fica a receitinha do meu “Macarrão de Suihanki”.


Você vai precisar de:
- Espaguete (quantidade dependendo do tamanho da panela e das bocas pra alimentar);
- Bacon em cubinhos;
- Provolone, também em cubinhos;
- Queijo processado, em fatias (no Japão, de preferência, o do tipo torokeru);
- Cebolinha, pimenta do reino, cheiro verde, alho e cebola granulada a gosto.

Pra preparar essa massa, vc só precisa quebrar o espaguete em até três partes, colocar uma quantidade de água suficiente pra cobrir o macarrão no fundo da panela e mais um pouquinho (tomem cuidado em deixar a massa no fundo mesmo, pra quantidade de água não ficar grande demais), adicionar todos os ingredientes, tomando o cuidado de rasgar grosseiramente o queijo processado, e pronto. É só apertar o botão e esperar.

O cheiro, enquanto a suihanki realiza a magia, é de agitar as lombrigas. Vocês vão sentir... E é um prato que não dá trabalho por mais de 10 minutinhos, além do “trabalho” de comer. Hahaha!

E é por essas e outras que eu AMO MINHA SUIHANKI!!!!

7 de março de 2013

Morar no Japão

“Como é uma casa japonesa?” “Quanto custa morar no Japão?” “Como é procurar um apartamento no Japão?” “Todas as casas são pequenas?” “Todo mundo dorme em futon, sobre o tatami?” “Todas as portas são de correr e todas as cidades tem muitos samurais, ninjas e lutas de espada na rua?” “O Naruto e o Jiraya são seus vizinhos?” São perguntas muito comuns sobre o Japão...

Respondendo, consecutivamente: Diferente; caro; difícil; a maior parte; não; não; e NÃO, GRAÇAS A DEUS. (rs)

A moradia, no Japão, é um caso bem diferente do Brasil, eu acho.

Primeiramente, se existe uma grande adaptação que precisamos passar, quando resolvemos viver no Japão, o nome dela é ESPAÇO. Parece besteira, mas a verdade é que sair do nosso (literalmente) grandioso Brasil e vir parar em um arquipélago como o Japão é complicado em termos de organização de espaço. Quando digo que virei a rainha do Tetris nessa terra, não brinco.
Já vivi em dois lugares diferentes aqui e, hoje, estou me preparando pra mudar de novo. O primeiro foi o dormitório e, como já disse por aqui, foi uma... Experiência... O quarto tinha 9 metros quadrados, com banheiro e cozinha compartilhados, e lá tive minhas primeiras lições de organização espacial, além de lições de convivência (aprendi que nunca mais quero dividir nada com desconhecidos lunáticos). O segundo lugar foi o Cafofo, que dividi com o namorado, e também falei um pouquinho aqui. O apartamento tem 42 metros quadrados, varanda e é um lugar bem legal, com soluções legais de aproveitamento de espaço e conforto. O terceiro vai ser minha Choupana na montanha, onde vou passar a viver a partir de abril. A Choupana tem 21 metros quadrados, varanda e é o típico apartamento japonês para uma só pessoa, mas ainda uma boa opção.

Agora, sabendo o tamanho desses apartamentos, procure lembrar de quantos metros quadrados tem a sua casa (ou apartamento) no Brasil... Pois é... Logicamente existem casas grandes no Japão, mas essas pertencem a pessoas com bastante dinheiro ou são mais antigas, naquele formato clássico que conhecemos, com lindos jardins japoneses.



Existem dois tipos de apartamentos japoneses, os apatos e as manshons. Manshon é um apartamento pequeno, de menor custo e, geralmente, de até dois quartos ou ambientes. Apato é um apartamento maior, mais caro e, geralmente, para famílias, com mais ambientes.

Os apartamentos mais novos (ou reformados recentemente), tem piso e não tatami, mas nada nos impede de encontrar ainda quartos com tatami por aí. Acredito que a proporção de quartos com e sem tatami são iguais. E, tirando a extrema dificuldade de limpar ou manter limpo um tatami, quartos tradicionais não são assim tão ruins. As portas de correr continuam muito comuns, mas acredito que seja mais por uma questão de economia de espaço e não por samurais, papel de arroz e tradição. (rs) A maior parte dos japoneses, hoje, ainda usa futon para dormir, mas as camas com armação e colchão tem se tornado mais comuns ultimamente.

Outro ponto disso tudo é a questão do custo. Considerando a falta de espaço no Japão, principalmente nos grandes centros e nas áreas próximas às grandes cidade, o valor do aluguel, por metro quadrado, é justo. Mas, em termos brasileiros, os aluguéis japoneses são extremamente caros. Só pra constar, o valor do meu aluguel no dormitório era de 28 mil ienes, o que equivale a cerca de R$550... Por um quarto de NOVE METROS QUADRADOS, mais os espaços comuns. Não sei vocês, mas eu acho isso absurdamente caro. Não comento também a compra de imóveis, porque não sei bem como funciona e imagino que seja incrivelmente mais salgada.

Existem várias imobiliárias super famosas no Japão e, geralmente, é nelas que conseguimos encontrar apartamentos legais com mais facilidade. Numa imobiliária japonesa, você chega, descreve exatamente o tipo de apartamento que você quer, o quanto quer gastar e a área, depois disso, o corretor vai te apresentar as opções e você vai poder visitar todas que preferir. As visitas são fundamentais, porque nem sempre as plantas nos dizem exatamente como é o apartamento e, na maioria das vezes, pelo menos nas nossas cabeças nativas de países de proporções continentais, a planta sempre parece muito maior do que encontramos de espaço ao chegar no local. Falo por experiência própria. Além dos prédios estranhíssimos, com costumes estranhos e meio porcões que podemos encontrar. No caso imobiliário japonês, realmente, nem tudo que reluz é ouro.

Acredito que encontrar um lugar pra morar, no Japão, é uma tarefa complicada para quem gosta de ter detalhes bem específicos na casa também. Como separações de cômodos e tudo mais. Você sempre terá que abrir mão de alguma coisa. Além de ter de lidar com uma burocracia infernal. Mas, no fim das contas, ainda é possível encontrar um lugar legal, que fique aconchegante.

27 de fevereiro de 2013

Devaneios e um "Risotto" de Camarão

Era uma vez uma menina feliz, ela gostava de música, livros e internet. Essa menina também tinha um blog e adorava escrever. Mas, em um dia sombrio, veio a vida acadêmica e destruiu tudo isso. (rs)

Há exatos 4 meses não consigo tempo, inspiração, vontade ou qualquer outra coisa relativa a esse blog. Me processem...

Tem sido complicado. A pesquisa tem exigido e a vida igualmente. Problemas pra resolver, sorrisos pra sorrir e choros pra chorar. Nesse intervalo ENORME de tempo, estudei, construí um novo projeto, me qualifiquei, dei escapulidas nos fins de semana, conheci lugares maravilhosos, recebi visitas maravilhosas, corri pra cima e pra baixo, descobri novidades na cozinha, descobri temas legais de escrever.

Bem, material não me falta e, agora, estou de volta. YAAAAAY!!! Descobri, na realidade, que escrever é a minha terapia favorita e meus blogs tem sido grandes companheiros (já há uns bons 13 anos). Desde a época da menina “Nina_Na_Net” até a madurona que escreve sobre “Cores, Amores e Afins”. (rs)

Hoje, pra não passar em branco, vou deixar uma receita BACANUDA! (valha-me Rei Julian)

Tenho usado bastante a minha panela de arroz (em japonês: suihanki) ultimamente e os resultados tem sido muito legais. Pretendo escrever bem sobre as maravilhas da suihanki pra vocês, mais pra frente. Nas minhas várias experiências com a panela de arroz, descobri um jeito gostoso de preparar um “arroz maluco”, que mais parece um risotto. E assim surgiu meu ”Risotto” de Camarão.


Você vai precisar de:
- 2 copos de arroz;
- 300g de camarão (dos pequenininhos);
- Cebolinha;
- Pimenta do reino à gosto;
- 1 caldo de galinha (usei o “Galinha com Azeite” da Maggi e acho q foi o segredo);
- 1 Knnor Meu Arroz de cebola;
- 2 colheres de sopa de cream cheese

O segredo, como na panela de arroz japonesa, é misturar TUDO (menos o cream cheese) na água do arroz e deixar cozinhar junto. A panela de arroz controla tudo sozinha e desliga quando a água seca, mas funciona na panela normal também, com a tecnologia de ponta de vigiarmos bem.

Depois de secar a água, com o arroz bem quente, adicione as duas colheres de cream cheese, tampe a panela por 5 minutinhos (para derreter) e, depois, misture bem.

PRONTO!!! Pode ir comer à vontade.

Lembrando que nada te impede de temperar o arroz como quiser. Cebola e alho sempre são bem-vindos. A diferença é que, na panela de arroz, a cebola não funciona bem. Outro detalhe é que usei o arroz japonês, mas acho que deve ficar uma delícia com arroz parbolizado também.