24 de agosto de 2010

Hiroshima

Hoje vou começar uma nova categoria no blog, coisa que já estou para fazer há mil anos. A estréia da categoria "Por onde andei" - que acompanha o mapa ao lado (hoje desatualizado por culpa do Facebook, mas em breve ok) - não podia ser mais inspiradora; a primeira cidade desse mundão que vou descrever é Hiroshima.

Em toda a minha vida acadêmica, um dos grandes sonhos era conhecer cidades historicamente fundamentais e Hiroshima, definitivamente, se encaixa nessa descrição. Impossível que alguém não saiba e longe de mim menosprezar aqueles que ainda têm a paciência de ler os frutos dessa mente insana, mas trata-se de nada mais que a cidade que sofreu o 1º bombardeio atômico da História da humanidade; ou seja, motivo de orgasmos de qualquer historiador cotemporâneo que se preze.

Chegamos a Hiroshima às 6:15 da manhã do dia 4 de agosto. Encontramos uma cidade fantasma, nada mais justo para uma manhã de quarta-feira. Na busca por um lugar para tomarmos o delicioso café da manhã fornecido pela 7eleven, acabamos chegando onde devíamos. A distância entre um brasileiro e a guerra é tão maior do que podemos imaginar, que, ao me deparar com o domo - Sim! O famoso domo que se manteve pacialmente de pé após a explosão -, minha primeira reação de incredulidade. Tanto eu quanto as 5 pessoas que estavam comigo ficaram boquiabertas. E, começando essa minha experiência única, me convenci de que não importa quantos livros eu leia ou o quanto eu seja apaixonada e interessada, ninguém sabe mais sobre a guerra do que quem a viveu.

Minha câmera fotográfica nunca trabalhou tanto. Aos poucos vimos a cidade acordar e se movimentar, a final, a 2 dias da cerimônia no Memorial da Paz, ainda há muito o que fazer.

A próxima parada foi o museu do Memorial da Paz. Quando estávamos à caminho, fomos surpreendidos por badaladas tristes do relógio do parque, eram 8:15 da manhã, a hora da bomba; mais uma vez - pela 23739ª vez, pra ser mais exata - a cidade parava e aquele som nos mostrava o quão brutal é o ser humano. O próprio Museu do Memorial da Paz não ficava atrás no quesito "Oi, somos animais selvagens!" e não nos deixava a opção de não visitá-lo (a entrada era só 50 ienes, o que não é nada e não deve cobrir nem a conta de luz do local).

Uma coisa curiosa sobre a cultura oriental e à educação passada às crianças - característica que muito me agrada, por sinal - é a forma com que as brutalidades cometidas pelo homem são mostradas sem pudores ou cortes, para que desde pequena a pessoa saiba o que não deve se repetir. O museu, estupidamente deprimente e chocante, no ocidente, seria proibido para crianças do ensino primário, no Japão, as escolas são obrigadas a fazer o passeio com seus alunos.

Após o museu, em um momento mais light, visitamos o castelo de Hiroshima. Mas a memória da bomba não deixou de nos acompanhar. O castelo original foi completamente destruído pela bomba e sua réplica fiel não deixa de os contar essa história.

Mas nada pode marcar mais uma estadia na cidade de Hiroshima do que a cerimônia do dia 6 de agosto. Este ano foram completos 65 anos daquela manhã trágica. E estar no 1º Cerimonial do Memorial da Paz a receber um representante norte-americano e o Secretário Geral da ONU está no "Top 5" de honras da minha vida.

Foi impossível conter a emoção ou não imaginar, no momento em que badalou o Sino da Paz, às 8:15 da manhã, que há 65 anos atrás, naquele exato local, morriam dolorosamente pessoas comuns, como eu e você; homens, mulheres, idosos, crianças, bebês...

Mesmo assim, longe de uma mensagem de ódio aos americanos - sentimento fácil quando nos deparamos com tamanha brutalidade -, Hiroshima só nos pede paz, só clama pela não repetição de todo o mal que a guerra pode gerar. Conversar com um 被爆者 (Hibakusha = sobrevivente da bomba) é compreender bem isso. Mas essa parte fica pro próximo post...

3 comentários:

  1. LINDO, LINDO, LINDO!!!!!!! E ao mesmo tempo extremamente deprimente, pq nos lembra q o ser humano sabe e pode, a qualquer momento, ser muito cruel...
    Chorei, novamente, pq me lembrei de sua foto no Facebook, que mostra uma quantidade considerável de garrafas de água, deixadas pelas pessoas junto às flores, em homenagem aos mortos. "Água, por favor..." Sobreviventes, enquanto queimavam vivos...
    A humanidade ainda precisa melhorar muito, pq atrocidades ainda continuam o acontecer a cada segundo pelo mundo...

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  2. Li de novo... Pra aplacar a saudade...

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  3. O post tá muito legal, Nina!
    E eu me sinto "honrado" de ter participado, também, desse memorial histórico e ter presenciado coisas que só se presencia uma vez na vida.
    Viagem inesquecível...

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