9 de fevereiro de 2011

As fases de um alien no arquipélago


Ser um estrangeiro residente em qualquer lugar do mundo não é uma experiência fácil. Nem mesmo para os dominantes da língua local. A vida em uma cultura diferente da nossa é complicada em cada pequeno detalhe. E apesar de considerar cada detalhe prazeroso, não deixo de achar penoso algumas vezes, meu lado “cientista humana” não supera meu todo homo sapiens.

O Japão é minha primeira experiência nesse sentido, mas acredito que a sensação seja semelhante para todos os estrangeiros e, em especial, brasileiros que moram fora do nosso país.

Logo que chegamos aqui, ouvimos de um senpai (veterano) que a vida no Japão tinha suas fases de sentimentos e, com o tempo, confirmamos tudinho. Como diria Jack O Estripador, vamos por partes:

- Primeira etapa: DESLUMBRE
Se você imagina como é chegar no Japão, acredite, você ainda assim não faz idéia de como é. Tudo é novidade, tudo te surpreende, tudo é tão lindo. Cada pétala de sakura (sim, cheguei na primavera) representa um passinho que você deu para chegar ali. A cada passeio, a cada ida ao supermercado, a cada ida à universidade, um novo mundo colorido é descoberto. É tudo tão colorido e limpo e novo e organizado e paradisíaco que dá vontade de viver aqui para sempre.

- Segunda etapa: DESILUSÃO
O tempo passa e, como em qualquer relacionamento que se preze, a intimidade destrói o sentimento. De repente você percebe que é tudo diferente demais e que, talvez o Japão não seja o lugar certo. Talvez um país de cultura ocidental fosse mais gentil (o que todos sabemos não ser verdade, mas vale sonhar) em relação a nossa cultura. As pessoas te olharem no trem é a razão de uma crise de raiva, porque, né? Como é que esse povo fica tão surpreso? Eles acham que só existe o Japão no mapa e além daqui é selva ou mar? A caixa da loja falar devagar é um insulto a sua inteligência. A professora falar em inglês é outro insulto. Ao mesmo tempo, te mandarem documentos todos em japonês é uma falta de consideração, porque você é um estrangeiro e não precisa ser bom no japonês obrigatoriamente. A segunda fase do relacionamento é como se fosse a adolescência do estrangeiro no Japão. Tudo é ruim, tudo magoa, tudo fere, tudo machuca.

- Terceira etapa: CONFORMISMO
Depois de gritar aos quatro ventos que você é um estrangeiro e merece mais amor, vem o conformismo. Você finalmente aprende que, como disse uma sensei, cultura não é para se entender e sim para se aceitar. E o bonito é ter a sua cultura e respeitar a do amiguinho, levando em consideração que ele respeite a sua também. E, assim, o Japão volta a ser um lugar bonito, mas com seus defeitos. Ou seja, um país normal, como o nosso; apesar da diferença brutal no que diz respeito a organização, limpeza e respeito. E, também, com uma cultura que torna o povo um tanto ou quanto menos caloroso que nós BRASILEIROSBEIJOSEABRAÇOS, mas não menos educados.

Ser estrangeiro em outro país é como nascer, crescer e se desenvolver de novo. Muito bonito! Apesar de penoso... Garanto que seria cômico, se não fosse trágico. (rs)

3 comentários:

  1. MUITO BOM!!! Resume, com muito humor, tudo q se sente qdo se mora fora do país! Vc não deve lembrar, era muito pequena qdo moramos em San Diego, USA, tinha apenas dois anos... Mas aturar a prepotência do povo americano era dureza, apesar de tudo de bom que vivemos e vimos por lá, de toda a beleza do lugar, e tal... SHOW O TEXTO!

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  2. Muito bom 2!!!!
    Curioso, Maia, é perceber que a nossa natureza, ainda que a mesma, se torna outra quando submetida à forma como dela fazemso uso para viver. A nossa capacidade transformadora é fantástica na aproximação, mas o é em grau maior na diferenciação, sem, contudo, que o que somos nos seja retirado.
    Se, como brasileiros somos,por cultura histórica, mais "braços abertos", ainda me vejo olhando,discretamente,mas com surpresa, para alguém cujos traços físicos evidênciam outras paragens...
    Não tem jeito.Somos os mesmos e vivemos como nossos pa...res!
    Bjs ( é muito lindo vê-la nessa maturidade construída de olhos abertos e muito pé no chão...)

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  3. Muito bom o texto, Marina! Não deve ser fácil mesmo..

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