21 de junho de 2013

Uma "confusão" chamada Democracia

Nos últimos dias, um certo "ídolo nacional" declarou que estão acontecendo umas "confusões" no Brasil. Não pretendo escrever aqui pra vocês os conceitos filosóficos de uma democracia, nem ensinar nada. E, antes que me metam o pau nos comentários, as aspas são bem claras sobre o que eu acho da fala daquele senhor. Na minha humilde opinião, o povo brasileiro começou, finalmente, a entender o que é essa “confusão” onde todos têm, além de deveres, direitos; essa “confusão” chamada DEMO-CRACIA. E essa mudança é tão louca e rápida e arrebatadora e emocionante e... e... e real. Visível. O gigante realmente despertou!

As mídias sociais borbulham de informações, opiniões, posições, acusações, defesas, indicações, canções, reivindicações... Vídeos, textos, depoimentos, relatos, chamados, imposições, revoltas... Uma chuva de informações 24/7, em tempo real, vinda de todos os lugares, de todas as gerações, de todo o país. O povo, gigante, acordou e acordou faminto. Com fome de direitos, fome de transparência, fome de um país melhor pra você, pra mim, pros meus filhos, pros meus netos.

Em 26 anos de vida nunca vi algo assim, algo grandioso, algo esplêndido. Já participei de protestos, já tive minhas pequenas atuações por aí, mas nunca vi nada assim. E acho, sinceramente, que, no meio dessa fome, precisamos parar e pensar bastante sobre os rumos de tudo isso. Racionalizar, saber o objetivo, saber como lidar com tanta novidade.

Ver de fora algo assim dói, porque nada seria mais delicioso do que uma participação direta em algo tão importante, acontecendo lá, em casa. Mas a distância nos impõe certa liberdade de análise. Nos dá o delay necessário pra enxergar certas coisas. E a dor de ver os tristes eventos de ontem nos leva a pensar, pensar e pensar. Então, vou desabafar em tópicos o que acho louvável e o que acho que precisa de reflexão. Isso é a minha opinião, o que eu acho sobre tudo isso. Podem me achar burra, alienada, lesada, coxinha, não ligo. Mas vamos debater isso, é sempre bom, é sempre saudável.

1 - Não é por R$0,20. Definitivamente não e sei bem que essa ideia veio da fala de outro desprezível senhor, logo no início de toda essa movimentação. Mas isso não tira a importância desses centavos. É uma ideia meio ambígua mesmo, louca, mas o significado de tudo está nas entrelinhas. São R$0,20 a mais em um serviço estúpido, vergonhoso, em um sistema ainda mais imbecil. E, nesse sentido, é e não é por causa dessas duas dezenas de centavos. O que faz toda essa movimentação social algo mais do que brilhante, genial. É incrível ver todo um povo acordar e enxergar algo tão sensível.

2 - Não aos militantes políticos nos protestos? Essa foi uma das ideias que mais martelou meu cérebro. Martelou e martelou. Fui e voltei em opiniões, parei, respirei, fui e voltei de novo. O Brasil, hoje, passa por uma crise tremenda de representatividade (ou não-representatividade, whatever). E quando digo tremenda, é uma parada muito grande mesmo. Os “representantes” não representam, roubam, abusam, desrespeitam. Nenhum partido, agora, me faz crer em mudança, coisa minha. Mas depois de refletir pesadamente sobre as reações da população à presença de certos partidos nas passeadas, pensei cá comigo: “Por que eu posso participar de um ato político com ideias de mudança e outras pessoas, também com ideias de mudança, não podem se juntar a mim?” Tolher a liberdade de expressão de pessoas que também querem a melhoria não me faz melhor do que a repressão do estado. Um processo de mudança democrática deve acolher, escutar e debater todas as opiniões que visem a melhora do país, que apontem uma tentativa de mudança da porcaria que vivemos agora. A gente precisa tomar muito cuidado com esses vazios, porque tem sempre alguém muito importante e aproveitador (como essa galerinha que está no poder agora) querendo preencher os vácuos.

3 - Impeachment? Na primeira vez que li algo sobre um processo de impeachment de Dilma-Cabral-Paes-Sei-lá-quem, pensei: “Ok... E quem vamos colocar no lugar? Minha mãe (nada contra você, mama! você seria uma presidente muito foda!)? O padeiro? Meu professor de aeróbica? Meu cachorro?” Vejam bem, eu digo e repito, com todas as letras, ODEIO essa máfia inescrupulosa que nós temos no governo agora. E é ódio mesmo, tenho certeza. Mas, se passamos por essa crise imensa de representatividade no nosso corpo político, quem substituiria essa corja, gente? Outra corja? O Collor foi deposto... O país melhorou depois disso? Nós precisamos de uma reforma política, queridos. Uma reforma completa. E isso é um processo longo. Começa assim, como estamos agora, gritando. Passa por uma mudança na forma como cobramos resultados, seja nas urnas como no dia a dia das nossas cidades e estados. E chega, no fim, à formação de uma nova geração política, com outros ideais, outras propostas e outra forma de agir. Sendo que essa última etapa começa a ser realizada agora, mudando a ideia do povo sobre política, mudando a ideia do povo sobre esse “jeitinho” maldito, mudando a ideia de todos sobre como fazer o país crescer, para crescermos juntos, e ensinando às nossas crianças tudo isso (ironicamente, começa no que não temos e precisamos passar a valorizar mais e mais, a educação).

4 - Galera que foi pra rua por modinha. Cansei de ler isso em tudo quanto é canto. “Olha lá! Foi pro protesto pra fazer álbum no Facebook!” ou “Não sabe nem o que tá gritando!”. Gente, pára! Só pára! Quando ninguém faz nada, a gente reclama. Quando alguém faz algo, a gente reclama. Parem de reclamar de coisa besta e reclamem do que merece reclamação. Os mais novos, que foram pra um protesto pela primeira vez, tiraram fotos, gritaram, etc., realizaram um grande passo na formação deles como cidadãos. Tirando fotos pra colocar na internet, indo bonitinhos, levando cartazes engraçadinhos ou não. Eles começaram a ver que ir pra rua protestar é algo legal, que deve acontecer, que é um direito. E é complicado ficar julgando a torto e a direito as atitudes das pessoas que estão do nosso lado numa luta. Isso enfraquece a nossa própria crença no que estamos fazendo. Nós temos é que levar todo mundo pra rua sim, mostrar que protesto é bacana sim e que reclamar nossos direitos tem que virar moda, nesse país com tanta coisa errada.

5 - Paz VS. Violência. Esse é um dos tópicos que mais me doem nesse dia, nesse momento, nesse minutinho. É um dos assuntos que eu sofro mais em falar agora. Na segunda-feira, meti o pau no que aconteceu no fim do protesto, na ALERJ. Meti e meto de novo. Desculpa, gente, mas não dá pra aceitar o que rolou ali e achar normal. Eu não consigo aceitar que o argumento correto tenha que ser defendido quebrando tudo, pra mim não é racional, e aquele evento ali foi muito mais do que estranho. O cheiro de armação foi tão brutal, que chegou aqui. E, aí, hoje, tive meu coração despedaçado, arrancado do peito em decepção, preocupação, tristeza, revolta, incapacidade de agir... Tudo! Vi tanta atrocidade, tanto descaramento, tanta falta de noção. Daqui! De longe! Do outro lado do planeta. E meu mundo caiu ao perceber que eu cheguei a acreditar na integridade de policiais (generalização esdrúxula, mas movida pela raiva), no fato de que “cumprir ordens” poderia ser um álibi. Acreditei que eles eram tão vítimas dessa porcaria quanto nós, que eles eram o escudo humano de um monte de engravatado bandido. Mas não... Eles são o sistema, eles são a pior demonstração da sujeira. Eles são a luva de aço de uma mão estatal que nos espanca a cada dia. E foi exatamente o que fizeram em São Paulo, o que fizeram no Rio, o que fizeram em Salvador... Nos espancaram. Abertamente, sem melindres, sem controle, sem julgamento, sem raciocínio. A comparação que me vem é a de cães loucos, enfurecidos, correndo atrás das crianças que brincavam de bola na rua. Quem jogou molotov, foi mordido. Quem gritou contra a polícia, foi mordido. Quem gritou “sem violência”, foi mordido. Quem não gritou, foi mordido. Quem trabalhou o dia todo e voltava pra casa, foi mordido. Até eu, no Japão, fui mordida. E a mordida está sangrando, doendo, inflamando. E, disso, não vem nada bom, gente! Pensa! Se gentileza gera gentileza, violência só pode gerar mais violência. A massa, agora, tem mais um alvo, tem mais um ódio, mais um ressentimento. O foco nunca foi o confronto contra a polícia, o grupo de assanhadinho que foi xingar os policiais, era um grupo de beócios, mas a reação foi além, foi absurda, foi inescrupulosa. Nada me tira da cabeça que a reação foi justificada pela nossa ingenuidade em condenar toda aquela armação de segunda-feira, tudo foi justificado por eles não terem reagido (muito suspeitamente) ao que aconteceu na ALERJ e terem a “obrigação” de impedir novos atos de “vandalismo” e “depredação”, na cidade inteira, ontem. Tudo cheira a merda, desculpem o termo. A noite de ontem, no Rio, foi a demonstração de que os “mocinhos” são tão bandidos quanto os vilões, e os vilões são mais cruéis do que nós imaginávamos.

6 - Multiplicidade de objetivos. Quando vocês escreviam carta pra Papai Noel também era assim? Vocês pediam o universo inteiro? Acho que sim, né? Todo mundo passou por essa fase de querer tudo ao mesmo tempo. A situação precária que nós vivemos hoje no nosso país nos leva de volta a esse sentimento. Queremos tudo, agora, pra já, pra ontem! Estamos mesmo atolados numa montanha de cocô imensa, me surpreende que não tenhamos afundado de vez nela até agora. Mas nada na vida vem em pacotes completos, nada se transforma da água pro vinho porque nós queremos muito. É papo de cientista humano pentelho (como eu), mas é real; tudo é um processo. Nossas pernas não são longas o suficiente pra abraçar o mundo; nossa força é imensa, mas não o suficiente pra demolir e construir um país novo em 2 segundos. Como mamãe dizia quando queríamos a loja de brinquedo inteira, de uma vez, “escolhe um ou não vai ganhar nada”. Ou nós vamos dando um passo de cada vez nessa mudança do país, ou vamos acabar perdendo o rumo do movimento e vamos parar na montanha de cocô de novo. Nenhuma mudança real acontece da noite pro dia, vide, novamente, o caso Collor; tirar um presidente não significou nenhuma melhoria no nosso sistema político. Acabar com a corrupção é bacana? É! Mas não vai acontecer agora, nesse segundo. Foquem no que é urgente e pode mudar AGORA. A tarifa do ônibus, a PEC 37, essas pequenas-grandes coisas que vão dar o passo inicial pra algo maior. Vamos subir de instância aos poucos e fazer o castelo de cartas marcadas ruir do jeito certo, pra não sobrar nada de ruim de pé, pra não negligenciarmos nada que possa nos fazer retroceder mais à frente.

Três páginas de post, revolta, ranger de dentes, desabafos, ideias doidas e doídas... Desculpe o incômodo, mas eu também estou tentando mudar o Brasil. E a luta continua! Agora, mais do que nunca, tem que continuar. O medo que nossos “poderosos bandidinhos” têm demonstrado é a clara mostra de que estamos no caminho certo. Nunca me orgulhei e senti tanta esperança. Não me decepcionem! (rs) A grande história da Revolta dos Vinte Centavos só começou a ser escrita...

2 comentários:

  1. É, meu amor, eu tô nessa contigo!
    Nunca vimos algo desse jeito no nosso país, mesmo que parecendo modismo. Criticam o vandalismo, criticam a passividade, criticam a falta de foco e criticam o modismo. A gente nunca vai agradar a todos em nenhuma instância. Mas o que a gente pode fazer é tentar chegar a um bom senso pro bem-comum. E é o que todos estão bravejando nas ruas. tem gente querendo Goku pra presidente assim como tem gente querendo a Dilma fora. Afinal, isso é uma democracia! E é isso que foi despertado no país: bem ou mal, estamos num sistema democrático, porém o povo, degentor desse poder, não o está exercendo.
    E todos esses acontecimentos no decorrer dessa movimentação nacional, como a falta de posicionamento sério do governo frente às proporções alcançadas pelo movimento, os casos de violência e abuso policial, a repressão à bandeiras...tudo isso já está alimentando o processo da mudança. Isso tudo fomenta e contribui pra getne acordar pro que e porque está tudo errado!
    E, sim, eu dou total apoio pra sua mãe ser prediente, caso ela se candidate! Hahuaiha! Nela eu dou meu voto!
    Beijos!

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  2. Ih... Não saio mais daqui... Hahahahaha!!!
    1-Partidos políticos: acabei de colocar minha opinião pra amigos. Não concordo com a violência de tomar bandeiras, queimar, bater. Isso é radicalismo e todo radicalismo é burro. Mas... O Brasil não tem mais polos políticos opostos, pra que haja uma política saudável. Todos são iguais, nenhum defende ideologia nenhuma e todos estão corroídos pela corrupção, não se salva um. Nessa salada, o que se mostra é uma política que só traz desilusão ao povo. Se vc pensar bem, os partidos de esquerda, principalmente os que se aliaram ao governo do PT, deixaram de lado os ideais há muito tempo. São muito mais capitalistas do que eu... kkk Os de "oposição", se é que podemos dizer que temos oposição, são inoperantes. Tanto os de centro, qto os de esquerda, pq de direita, não há nenhum. Resultado: nada funciona bem com desequilíbrio e corrupção. Daí esse movimento tão forte das pessoas em não confiar mais em nenhum. Oportunismo: não é bem-vindo e ele aconteceu em todas as marchas anteriores, sabe? Teve uma, a dos 100 mil, em que vi fotos onde as faixas de movimentos partidários e as bandeiras partidárias do PSTU e do PSOL foram propositalmente colocadas na linha de frente da passeata, como se fossem os organizadores e idealizadores, quando todos sabemos que não foram. Todas as convocações e organizações se diziam claramente apartidárias. Esse oportunismo é que me enoja e a todos. Muito.
    2-Polícia: deixar vândalos agirem livremente e bater em manifestantes pacíficos que voltavam para suas casas é atitude que dispensa qualquer tipo de explicação, até pq, ela não existe. rs
    3- Multiplicidade de objetivos: eles existem, sem dúvida, mas acho que o povo brasileiro teve o primeiro choque de realidade, berrou pra todos os lados, mas não é tão imbecil como os governantes achavam. Já existiam, há e já estão acontecendo os movimentos pontuais. O que difere, é que antes do rebuliço, não eram vistos. Agora, ganharam essa visibilidade importantíssima e começam a ganhar adesões aos milhares! A gente pode medir pelas adesões aos eventos no Facebook. Houve passeatas que eu fui e contavam com, no máximo e estourando, 200 a 300 pessoas. Hoje, já está acontecendo um protesto em Sampa, contra a cura-gay da Comissão dos Direitos Humanos, e com bastante gente! Domingo, vamos poder medir a celebridade que a causa da PEC37 ganhou, quando formos às ruas em Copa e vamos ver qtos dos 30.546 internautas que confirmaram presença, aparecerão. Mas já considero uma grande vitória termos aumentado dos cerca de 1.000 a 2.000 internautas de antes, dos quais só aparecia aquela "merrequinha" que citei, para esse número imenso. Ou seja, nada é totalmente negativo, certo? Primeiro o caos, depois a organização. E cada degrau sendo subido de cada vez: contra a corrupção, fora Feliciano, fora Renan, educação, saúde, e por aí vamos caminhando.
    Qto ao resto, concordância em gênero, número e grau! <3 <3
    Putz... Escrevi muito. Hahahahahaha!!!
    E ao Carlitos, agradeço pelo voto. Huahuahuahua!!

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