4 de janeiro de 2009

The forbbiden fruit tastes the sweetest...

Em vez de me mexer, pensei mais um pouco em Julieta.

Imaginei o que ela teria feito se Romeu a deixasse, não porque fosse proibido, mas por perder o interesse. E se Rosalina lhe tivesse dado atenção e ele mudasse de idéia? E se, em vez de se casar com Julieta, ele simplesmente sumisse?

Pensei que sabia como Julieta se sentiria.

Ela não voltaria para sua antiga vida, não mesmo. Não teria sequer se mudado, disso eu tinha certeza. Mesmo que tivesse vivido até ficar velha e grisalha, cada vez que fechasse os olhos teria sido o rosto de Romeu que veria por trás das pálpebras. No fim das contas, já teria aceitado isso. Imaginei se ela teria se casado com Páris no final, só para agradar os pais, para manter a paz. Não, era provável que não, concluí. Por outro lado, a história não falava muito de Páris. Ele era só um estorvo - um substituto, uma ameaça, um prazo final para forçar a mão dela.

[...]

Eu estava incluindo informações demais na história. Romeu não mudaria de idéia. É por isso que as pessoas ainda se lembravam do nome dele, sempre em par com o dela: Romeu e Julieta. por isso era uma boa história. "Julieta leva um fora e fica com Páris" nunca teria sido um sucesso.

[New moon - Stephenie Meyer - p.294]



Romeu e Julieta... Parece a hitória mais clichê que existe. Tenho certeza, quase que absoluta, de que qualquer bípede humano conhece essa história, de um jeito ou de outro. O amor proibido, a "aventura", a espera, o superar do "até que a morte nos separe". Parece tão simples de compreender, quando visto de certos ângulos. "Que lindo!", alguns diriam. "Que trágico...", diriam outros. "Que chato!", alguns pensariam.

Há uma semana, eu diria que é complicado. É difícil, doloroso, trágico e utópico. Atacaria Shakespeare com um bastão de baseball facilmente, se este atravessasse meu caminho. Cuspiria no chão diante dele... Diria que não se pode acreditar em tudo aquilo. Seria grosseira com um dos maiores pensadores-escritores-criadores do mundo. Na cara dura, sem dó nem piedade!

Mas hoje, 4/5 de janeiro de 2009, as coisas seriam um pouco diferentes. Uma semana parece cicatrizar algumas feridas. A verdade é que não são mesmo feridas novas. Esse tipo de ferida se abre novamente a cada evento semelhante. A verdade é que não basta que nos chamem de "minha Julieta", para que sejam realmente nosso Romeu. Afinal, não só de Romeu é feita a estória dos dois. Não podemos ignorar Páris, ele também estava lá todo o tempo.

Minha insanidade, porém, vai um pouco além disso... A melhor maneira de pensar é em meio à solidão. O casulo é a chave para a transformação da borboleta. E ninguém sabe construir um casulo melhor do que eu, posso me gabar. Consigo, perfeitamente, ignorar meus meios de comunicação com o exterior, até a fala. Nada como um livro (ou três), meu sofá e minha mente presa em algo que me incomoda o suficiente para causar pontadas agudas em meu peito. As idéias parecem mais claras quando sofremos, apesar do risco de voltarmos ao erro com o mínimo alívio.

O saldo final de meu pequeno claustro foi um humor sombrio, sombrio a ponto de me tornar irreconhecível para mim mesma em alguns momentos. Além, é claro, da percepção de que a dor é parte integrante de tudo isso.

A verdade é que "Julieta leva um fora e fica com Páris", definitivamente não faria sucesso... É a mesma velha história do "no final tudo vai dar certo e, se não deu certo, é porque ainda não é o fim", se é que vocês me entendem.

3 comentários:

  1. Um post deveras poético, eu diria. E acho correto de sua parte se isolar de tudo quando necessário. Às vezes um momento longe do mundo é a melhor solução para tudo. Um momento só nosso nos faz tão melhores, não?

    Talvez um final onde Julieta leva um fora e termina com Páris realmente não faria sucesso. Mas um final onde Julieta leva um fora e arruma outro cara muito mais gostoso e menos emo que Romeu seria o auge da modernidade. Porque convenhamos, Romeu era um emo anacrônico. Aquelas declarações de amor dele pra Julieta pareciam ter sido feitas enquanto ele cortava os pulsos no banheiro.

    E por favor, que mulher aguentaria tanto grude? Nem que Julieta o amasse mais que tudo. Já pensou se naquela época tivesse celular, orkut, msn? Ui! Julieta se sentiria afogada em tanta proteção.

    Então, na minha opinião, acho que Julieta leva um fora e fica muito bem sozinha, obrigada, curtindo os bailinhos de máscara, seria muito mais corajoso da parte dela. Fikdik!

    [Acho que eu fugi um pouco do tema né?! xP]

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  2. Bom, primeiramente...sei lá.

    Comentando sobre Shakespeare. Ele tinha um sério complexo, matava quase todos os personagens em suas peças. Os personagens principais sempre morrem. Romeu e Julieta, Hamlet, Macbeth, Otelo, enfim...Enquanto Freud respondia tudo com sexo na virada do século XIX pro XX, Shakespeare resolvia tudo com a morte no século XVI. Parece que é a redenção final, onde a pessoa consegue ver tudo com sua claridade final, é onde atinge-se o nirvana, a compreensão completa. Pelo menos é assim que eu vejo.

    Ou seja, enquanto você faz seu casulo pra entender seu momento, superá-lo e seguir em frente, você só teria compreensão do quadro como um todo, da sua vida e da realidade, na hora da morte. Mórbido, não?

    Eu acho que isso é realmente o que ele quis dizer, não de um amor que supera a morte, mas sim de como a compreensão do que é realmente o amor, algo altruísta demais, só vem nos momentos finais. Suicídio não resolve, mas era a maneira que o sujeito la usava pra explicar as coisas. Porque é o momento final de todos, que ninguém escapa. A questão não era ficar com Romeu ou Páris, ou enfim. Todos os pensadores que atravessam o tempo sendo contemporâneos, buscavam entender algo maior do que eles mesmos. Acho que é isso.

    Foi bom ter lido seu post, fez minha cabeça funcionar novamente, estava meio num estado de torpor intelectual. Muita comida e bebida, festa de fim de ano, dá nisso. Ou outras coisas mais, enfim, não cabe falar aqui.

    Enfim, se faria sucesso ela tomar um fora e ficar com o outro, não sei, isso pra mim ficaria muito pueril no que Shakespeare queria mesmo falar. Não é um ou outro. É o entendimento do quadro como um todo.

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