Attenborough dirigiu a adaptação do musical criado por Joan Littlewood, Oh! What a lovely war!, para o cinema. Definitivamente um dos meus filmes favoritos, que conheci em uma tarde de "ócio criativo" em casa, trocando os canais da TV e vivendo meu início de paixão por filmes não tão conhecidos mas fundamentais (daqueles bem cult, mesmo!).

Entre militares montados em cavalos de carrosséis, shows com belas dançarinas convocando recrutas, parques de diversões e jogos de tabuleiro, a produção, adaptada da peça teatral criada em 1963, traz uma visão tragicômica do conflito que foi considerado, ao seu término, a guerra feita para pôr fim a todas as guerras e que, infelizmente, apenas deu início ao que Eric Hobsbawm chamaria, por motivos óbvios, de Era dos Extremos.
Logo na primeira parte do – assim como o cansativo conflito que retrata – extremamente longo filme, é exibido um encontro entre todos os chefes militares europeus, grandes burgueses e os políticos. Este encontro é marcado por um animado jogo de guerra. Em um enorme mapa, estendido em uma sala, os diplomatas e aristocratas caminham sobre os territórios e negociam, simbolizando os tratados e expansões territoriais que marcaram o período antecedente à Grande Guerra. O fim da cena mostra a foto de todo o grupo, tirada por um fotógrafo desconhecido e, após a explosão do flash da máquina, o arquiduque Francisco Ferdinando aparece morto.
Depois se seguem cenas de paradas otimistas, anunciando o novo grande parque de diversões que seria a guerra mundial. Toda a sociedade segue para o parque, animada e os jovens assumem a posição de soldados com alegria. No teatro, um show com belas mulheres convoca os homens ao serviço militar, cantando sobre como devem defender a pátria e sobre como as mulheres adoram homens fardados.
As cenas de guerra trazem a tristeza dos soldados nas trincheiras da guerra e o péssimo estado em que eram colocados durante o conflito, as cartas enviadas, as trocas de tropas no front.
Uma das cenas mais marcantes dos soldados em conflito traz uma conversa entre as trincheiras no meio do combate. Soldados ingleses começam a conversar – gritando, é claro – com as tropas alemãs inimigas. Tal conversa gera amizade entre os combatentes, que, interrompidos os ataques na noite de Natal, comemoram juntos a data no espaço de terra entre as trincheiras – chamado “terra de ninguém” por não estar dominado por nenhum dos lados. Tal simbolismo, somado às imagens dos militares de alta patente dançando e considerando o período uma “adorável guerra”, demonstra a idéia de que todo aquele sofrimento envolvia interesses de pequenos grupos da sociedade. Os mais poderosos, visando o lucro futuro, assistiam de longe a guerra, enquanto apenas a grande massa estava envolvida no conflito propriamente dito, sem ter, na realidade, nada que gerasse inimizade com os combatentes do lado oposto.
O fim emblemático da obra pacifista de 1969 traz um imenso campo, coberto por cruzes, simbolizando os mortos da Grande Guerra – que chegaram a cerca de 19 milhões. A música cantada neste momento, seguindo a cena na qual a câmera se afasta e mostra uma quantidade cada vez maior de sepulturas, tem um título que fala por si só, “We’ll Never Tell Them”, e é cantada pela voz do ator que interpreta o último soldado a morrer, logo que a paz é anunciada.
Segundo relatos, todas as músicas do filme são canções da época, que foram reutilizadas sarcasticamente, de acordo com cada cena e situação. Atualmente pouco conhecido no Brasil, o filme é um retrato que traz, coberto por uma fina e bem elaborada camada de risadas, um forte simbolismo, cheio de significados, sobre o que foi o primeiro grande conflito de proporções mundiais. Tratando com ironia aquilo que marcou fortemente a sociedade européia devido às dimensões que atingiu uma guerra pela primeira vez, o alto nível de violência que se manteve das guerras feudais, em combates corpo a corpo na maior parte das vezes, e o enorme número de sobreviventes traumatizados que gerou em virtude disso.
Recomendo, viu? É um filme muito legal! Principalmente pra quem gosta de estudar as guerras, ou os que gostam de um bom humor negro etc.
Excelente! Seria a palavra a ser utilizada que expressa dessa realidade: tanto do sarcasmo do filme como a bela forma que foi escrito este post. Realmente vemos o quanto em nome de grandes mitos, como o de povo e nação, grandes personalidades podem fazer com que sociedades espacial e socioculturalmente diferentes entrem em conflito em nome de "sei lá o quê."
ResponderExcluirO relato do filme me despertou a curiosidade de assisti-lo.
bjão>...continue firme!
Marina, seu blog é um doce, como você. Beijo, Daniel.
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