21 de julho de 2009

Oh! What a lovely war!

É simplesmente necessário agradecer a determinados gênios da filmografia. Um deles, que conquistou completamente por acaso minha admiração, foi Richard Attenborough.

Attenborough dirigiu a adaptação do musical criado por Joan Littlewood,
Oh! What a lovely war!, para o cinema. Definitivamente um dos meus filmes favoritos, que conheci em uma tarde de "ócio criativo" em casa, trocando os canais da TV e vivendo meu início de paixão por filmes não tão conhecidos mas fundamentais (daqueles bem cult, mesmo!).

O musical inglês mostra a Europa às vésperas e no decorrer da Primeira Guerra Mundial. Tratando de maneira completamente irônica e hilária a forma com que lidou com a guerra o velho continente.

Entre militares montados em cavalos de carrosséis, shows com belas dançarinas convocando recrutas, parques de diversões e jogos de tabuleiro, a produção, adaptada da peça teatral criada em 1963, traz uma visão tragicômica do conflito que foi considerado, ao seu término, a guerra feita para pôr fim a todas as guerras e que, infelizmente, apenas deu início ao que Eric Hobsbawm chamaria, por motivos óbvios, de Era dos Extremos.

Logo na primeira parte do – assim como o cansativo conflito que retrata – extremamente longo filme, é exibido um encontro entre todos os chefes militares europeus, grandes burgueses e os políticos. Este encontro é marcado por um animado jogo de guerra. Em um enorme mapa, estendido em uma sala, os diplomatas e aristocratas caminham sobre os territórios e negociam, simbolizando os tratados e expansões territoriais que marcaram o período antecedente à Grande Guerra. O fim da cena mostra a foto de todo o grupo, tirada por um fotógrafo desconhecido e, após a explosão do flash da máquina, o arquiduque Francisco Ferdinando aparece morto.

Depois se seguem cenas de paradas otimistas, anunciando o novo grande parque de diversões que seria a guerra mundial. Toda a sociedade segue para o parque, animada e os jovens assumem a posição de soldados com alegria. No teatro, um show com belas mulheres convoca os homens ao serviço militar, cantando sobre como devem defender a pátria e sobre como as mulheres adoram homens fardados.

As cenas de guerra trazem a tristeza dos soldados nas trincheiras da guerra e o péssimo estado em que eram colocados durante o conflito, as cartas enviadas, as trocas de tropas no front.

Uma das cenas mais marcantes dos soldados em conflito traz uma conversa entre as trincheiras no meio do combate. Soldados ingleses começam a conversar – gritando, é claro – com as tropas alemãs inimigas. Tal conversa gera amizade entre os combatentes, que, interrompidos os ataques na noite de Natal, comemoram juntos a data no espaço de terra entre as trincheiras – chamado “terra de ninguém” por não estar dominado por nenhum dos lados. Tal simbolismo, somado às imagens dos militares de alta patente dançando e considerando o período uma “adorável guerra”, demonstra a idéia de que todo aquele sofrimento envolvia interesses de pequenos grupos da sociedade. Os mais poderosos, visando o lucro futuro, assistiam de longe a guerra, enquanto apenas a grande massa estava envolvida no conflito propriamente dito, sem ter, na realidade, nada que gerasse inimizade com os combatentes do lado oposto.

O fim emblemático da obra pacifista de 1969 traz um imenso campo, coberto por cruzes, simbolizando os mortos da Grande Guerra – que chegaram a cerca de 19 milhões. A música cantada neste momento, seguindo a cena na qual a câmera se afasta e mostra uma quantidade cada vez maior de sepulturas, tem um título que fala por si só, “We’ll Never Tell Them”, e é cantada pela voz do ator que interpreta o último soldado a morrer, logo que a paz é anunciada.

Segundo relatos, todas as músicas do filme são canções da época, que foram reutilizadas sarcasticamente, de acordo com cada cena e situação. Atualmente pouco conhecido no Brasil, o filme é um retrato que traz, coberto por uma fina e bem elaborada camada de risadas, um forte simbolismo, cheio de significados, sobre o que foi o primeiro grande conflito de proporções mundiais. Tratando com ironia aquilo que marcou fortemente a sociedade européia devido às dimensões que atingiu uma guerra pela primeira vez, o alto nível de violência que se manteve das guerras feudais, em combates corpo a corpo na maior parte das vezes, e o enorme número de sobreviventes traumatizados que gerou em virtude disso.

Recomendo, viu? É um filme muito legal! Principalmente pra quem gosta de estudar as guerras, ou os que gostam de um bom humor negro etc.

2 comentários:

  1. Excelente! Seria a palavra a ser utilizada que expressa dessa realidade: tanto do sarcasmo do filme como a bela forma que foi escrito este post. Realmente vemos o quanto em nome de grandes mitos, como o de povo e nação, grandes personalidades podem fazer com que sociedades espacial e socioculturalmente diferentes entrem em conflito em nome de "sei lá o quê."
    O relato do filme me despertou a curiosidade de assisti-lo.

    bjão>...continue firme!

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  2. Marina, seu blog é um doce, como você. Beijo, Daniel.

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